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Encontro virtual reúne escritores lusófonos e homenageia Camões na Venezuela

Data de publicação
26 Dezembro 2024
9:38

O V Encontro Virtual de Escritores Lusófonos na Venezuela decorrerá entre hoje e 30 de dezembro, homenageando Luís Vaz de Camões (1524/25-1580), por ocasião do quinto centenário do nascimento do célebre poeta que trocou as comodidades da vida cortesã por uma vida militar e de infortúnio nas expedições pelos mares que lhe permitiram enveredar pela poesia épica.

Este evento, que abre espaços de deleite literário, reflexão e troca de ideias, conta com o apoio da Embaixada de Portugal em Caracas, do Camões Instituto da Cooperação e da Língua, da Coordenação do Ensino do Português na Venezuela, do Festival Literário Flipoços, no Brasil, do Hotel Montaña Suites e do Correio de Venezuela.

À semelhança das edições anteriores, o encontro proporciona ao público a oportunidade de participar, a distância, e gratuitamente, em conversas e entrevistas com figuras literárias de relevo, reunindo não só a comunidade portuguesa em todo o território nacional, mas também 13 mil alunos de português em mais de 50 instituições de ensino de várias regiões do país, que terão a oportunidade de contactar com escritores de diferentes países lusófonos.

“Queremos mostrar mais uma vez ao público venezuelano que a lusofonia não é apenas uma questão portuguesa, é um elo muito importante que une Portugal a um conjunto de países e territórios que partilham a sua língua. Ou seja, tanto se fala português num elegante café de Lisboa como nas profundezas da selva amazónica, como nas vastas savanas africanas ou nas movimentadas ruas de Macau, no sul da China. A mesma língua pode exprimir realidades e “mundos” diferentes, possibilitando aos escritores darem-se a conhecer na Venezuela, um país de língua espanhola”, explica Rainer Sousa, Coordenador do Ensino da Língua Portuguesa.

O professor salienta que, com este encontro, espera que os venezuelanos se juntem à celebração internacional dedicada ao autor de Os Lusíadas (1572), que, dentro da língua portuguesa, é uma figura universal como Shakespeare ou Cervantes.

“Temos realizado este ano, na Venezuela, algumas atividades que procuram projetar o quinto centenário de Camões. Este encontro de escritores é mais um no nosso programa cultural. Em 2025 teremos mais. As celebrações continuarão até junho de 2026”, disse.

COMEÇAR COM UMA HOMENAGEM

O encontro abrirá com uma homenagem a Camões na quinta-feira, 26 de dezembro, com a intervenção do Doutor Hélio Alves, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, atual Diretor do Centro de Estudos Comparatistas e destacado investigador das literaturas europeias do Renascimento e do início da Modernidade.

Alves participou recentemente no XI Encontro e VII Congresso de Professores de Português e teve a oportunidade de visitar Caracas e Maracay, onde proferiu palestras sobre Camões, a sua obra e o seu significado para a literatura mundial, bem como a importância de promover a sua leitura entre os alunos de português nas escolas venezuelanas.

“Hélio Alves é uma das maiores autoridades em Portugal no estudo e investigação da obra de Camões. Tem uma vasta bibliografia e contamos com ele para um projeto futuro”, disse Sousa.

PRINCIPALMENTE LITERATURA FEMININA

Na sexta-feira, 27 de dezembro, o encontro prossegue com a transmissão de um diálogo com a psicanalista Samantha Buglione, uma promissora escritora brasileira com formação interdisciplinar e experiência como professora universitária e investigadora. Nos últimos anos, escolheu a literatura como campo de ação. Para além de ter publicado contos, romances e colectâneas de poesia, tem trabalhado como colunista de vários jornais.

É autora de vários títulos, entre eles o romance Diário da Menina Vestida de Blue (2024), que trata de abusos, medos e vazios. Entre os seus livros, destacam-se o romance surrealista A Mãe Inventada (2022), o livro infantil O Caracol sem teto (2021) e o livro de contos Carimbos.

A convidada do encontro de sábado, dia 28, será a escritora portuguesa Cristina Drios, cujo primeiro romance Os Olhos de Tirésias venceu a Seleção Portuguesa da 27ª edição do Festival do Primeiro Romance de Chambéry. Depois, com os contos reunidos em Histórias de Índios, ganhou em 2012 o Prémio Literário Campo Alegre “Novo Autor, Primeiro Livro” da Fundação Ciência e Desenvolvimento da Câmara Municipal do Porto.

Em 2016, o seu conto A Mãe foi selecionado para integrar a coletânea O País Invisível do Centro Mário Cláudio e o seu segundo romance Adoração (2016), foi escrito durante uma residência literária na Ventspils Translator’s and Writer’s House, na Letónia.

João Melo será o escritor convidado do encontro de domingo, dia 29. Nascido em Angola, o autor estudou Direito e Comunicação Cultural e é membro fundador da União dos Escritores Angolanos e da Academia Angolana de Letras e Ciências Sociais.

Tem mais de 20 livros de contos, poesia, ensaios e um romance, publicados em Angola, Portugal e Brasil, bem como nos Estados Unidos, Cuba e Itália. Os seus poemas foram traduzidos para inglês e francês, e recolhidos em revistas literárias internacionais.

Em 2009, recebeu o Prémio Nacional de Cultura e Artes de Angola, na categoria de Literatura. Em 2023, com o seu livro Diário do Medo, ganhou o Prémio de Literatura Angola/Camões.

Segunda-feira, dia 30, é a vez de Vera Duarte, famosa escritora cabo-verdiana, licenciada em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa e uma verdadeira referência literária no seu país. Estreou-se na publicação com a obra poética Amanhã Amadrugada (poesia, 1993), seguida de O Arquipélago da Paixão ( poesia, 2001, Prix Tchicaya U Tam’si de poésie africaine), A Candidata (ficção, 2004, Prémio Sonangol de Literatura), Preces e Súplicas ou os Cânticos da Desesperança (poesia, 2005), Construindo a Utopia (ensaio, 2007), A Palavra e os Dias (crónicas, 2013) e A Matriarca - Uma Estória de Mestiçagens (romance, 2017), entre outros.

As palestras e entrevistas com cada escritor serão transmitidas nos dias indicados, às 18:00 (hora de Caracas) e às 22:00 (hora de Lisboa), através dos canais de YouTube da Coordenação para o Ensino do Português na Venezuela (Cepe Vzla) e do Correio da Venezuela, bem como através das contas de Facebook e Instagram destas organizações.

UMA VIDA DE EMOÇÕES

O professor Rainer Sousa sublinhou que o encontro, que nasceu durante a pandemia, mantém-se no seu formato virtual para que pessoas de diferentes partes do mundo possam conhecer novos escritores lusófonos, bem como clássicos - como o homenageado deste ano - e, por sua vez, divulgar o que está a ser feito pela língua portuguesa na Venezuela.

“Luís Vaz de Camões tornou-se um ícone da portugalidade. De facto, o dia 10 de junho, Dia de Portugal, é celebrado pela comunidade portuguesa na Venezuela. Esse dia é também o dia de Camões. Por isso, o que trazemos para a Venezuela com esta celebração dos 500 anos do seu nascimento é também a celebração de uma figura de que muitos venezuelanos certamente já ouviram falar, mas que não sabem realmente quem é”, comentou.

As investigações indicam que o poeta possivelmente terá nascido em Lisboa, durante o auge da expansão portuguesa, e que, como soldado, participou em expedições navais. Foi um homem do Renascimento europeu. As suas experiências, a sua sensibilidade, o seu conhecimento do mundo clássico e o seu talento fizeram dele um verdadeiro artista dos gênero lírico.

Sousa explicou que “quando jovem, Camões saiu de Portugal e passou mais de 10 anos fora do seu país. Teve a oportunidade de conhecer o Oriente. Foi então um emigrante, que passou pelas dificuldades típicas de quem deixa a sua terra natal e parte à conquista de ‘novos mundos’, na altura ainda desconhecidos”.

A EPOPEIA

Sabe-se que o poeta regressou a Lisboa em 1570 e dois anos depois publicou Os Lusíadas, “um poema épico que narra a história de Portugal, desde os seus primórdios até à chegada dos portugueses à Índia, em 1498. Esta viagem foi realizada por Vasco da Gama. Trata-se de uma obra de exaltação dos feitos portugueses no mundo daquela época. De facto, esta epopeia é algo que continua a chamar a atenção de escritores e investigadores de todo o mundo. Desse modo, este poema épico é a manifestação portuguesa desse espírito de exaltação nacional”, explicou o organizador do encontro.

UMA LÍNGUA EM EXPANSÃO

O coordenador do Ensino da Língua Portuguesa na Venezuela sublinhou que no país esta língua está em “expansão” e que já ultrapassou os limites das comunidade portuguesa e luso-descendente.

O português “passou a ser estudada como língua estrangeira em mais de 50 escolas e colégios da Venezuela e em 7 universidades venezuelanas”, referiu.

O impacto da difusão e do estudo da língua portuguesa também pode ser sentido nas relações de proximidade que ligam Portugal à Venezuela: “Somos países próximos e estamos obviamente unidos pelo grande número de cidadãos portugueses que aqui vivem. Podemos dizer que portugueses e venezuelanos se amam. O ensino das línguas é apenas uma manifestação desse amor”.

O V Encontro Virtual de Escritores Lusófonos decorrerá de 26 a 30 de dezembro, às 18h00 (hora venezuelana), nos canais de YouTube da Coordenação de Ensino Português no Estrangeiro Vzla e do Correio da Venezuela; bem como nas suas contas de Instagram e Facebook.

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