As tradições da Páscoa mantêm-se vivas na comunidade portuguesa e lusodescendente na Venezuela, onde é possível encontrar bacalhau seco e congelado, folares, ovos ou amêndoas, mas os preços afastam os clientes e os comerciantes queixam-se da queda nas vendas.
“Este ano, comprei apenas uma bandeja de umas 400 gramas de bacalhau congelado para o almoço em casa. Somos cinco pessoas e o preço mais barato que consegui foi de 30 dólares (quase 28 euros) por quilograma”, explicou uma portuguesa à agência Lusa, precisando que para “um bom almoço de Páscoa o ideal seria um quilograma de bacalhau”.
Residente no leste de Caracas, Fátima de Gonçalves explicou ainda que “além das tradições e do simbolismo religioso é importante compartilhar, passar o domingo de Páscoa em família”.
“Mas, para um dia como hoje são precisas algumas guloseimas. As amêndoas que me fazem lembrar a infância na Madeira, um ovo ou um coelho para a miúda da casa, algumas broas de mel, um folar ou o ‘colomba’ [bolo italiano]”, disse, sublinhando que “os altos preços das coisas e o orçamento limitado não permite extravagâncias”.
Por outro lado, o lusodescendente José Freitas visitou hoje de manhã várias padarias, à procura de “ovos de Páscoa” para o seu “piolho”, numa referência ao filho.
“Noutros anos era mais fácil conseguir um ovo de Páscoa de tamanho médio, hoje só havia grandes e super-grandes. Depois de mais de uma hora a dar voltas com o carro, consegui um ovinho de 150 gramas que me custou uns 15 euros”, explicou.
Sobre a agenda para hoje, o lusodescendente relatou que o domingo de Páscoa é um dia “de missa e procissão, de orar ao Nazareno de São Paulo”. Já nos dias anteriores, entre quinta e a sexta-feira, cumpriu a tradição venezuelana de visitar e rezar sete igrejas.
Também à Lusa, o comerciante português Francisco Martins, proprietário de um supermercado em Baruta (leste de Caracas), explicou que “as vendas já não são o que eram”.
“Antes dezenas de portugueses vinham cedo à procura de bacalhau e ovos de Páscoa, hoje, umas cinco pessoas compraram bacalhau, e não na quantidade que levavam antes. As coisas estão caras, os preços estão afixados em dólares e nem todos podem comprar”, disse.
Ainda assim, prosseguiu, “a Páscoa é a Páscoa e consegue-se sempre alguma coisa para celebrar. Quem pode compra bacalhau ou um cordeiro, mas quem não tem essa capacidade [económica] prepara outra coisa para recordar a tradição”.
“Lá em casa somos seis pessoas, todos adultos. Temos um pouco de bacalhau, de coelho e de cordeiro. É pouco mais variado”, contou ainda Francisco Martins.