A associação ambientalista Zero manifestou-se hoje “extremamente desiludida” com o curso das negociações da cimeira do clima no Dubai (COP28), por não contemplarem o fim dos combustíveis fósseis num documento fundamental.
A COP28 tem como um dos principais objetivos reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), produzidos maioritariamente pelos combustíveis fósseis, e impedir que as temperaturas subam acima de 1,5º em comparação com a época pré-industrial.
Nas negociações, que decorrem no Dubai há quase duas semanas houve uma opção de texto do “Balanço Global” dos oito anos do Acordo de Paris que se alinhava com o fim do petróleo, gás e carvão, mas hoje o presidente da COP28, Sultan Al Jaber, apresentou uma proposta de texto final “onde o fim dos combustíveis fósseis, um objetivo crucial desta conferência, deixou de estar presente”, lamenta a Zero.
“A atual proposta é uma enorme desilusão e retrocesso”, diz a associação em comunicado, afirmando que o texto “não respeita a ciência”, que a parte da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é “um menu que os países podem escolher”, que não refere a “eliminação progressiva” ou “redução gradual” dos combustíveis fósseis, ou que menciona uma “redução progressiva do carvão” mas sem qualquer escala temporal.
A Zero duvida que algo haja para comemorar na terça-feira sobre os oito anos do Acordo de Paris, aprovado em 12 de dezembro de 2015 e que é o tratado de referência para controlo das alterações climáticas.
A associação aplaude a União Europeia (UE), que está na COP28 a defender a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e que recusa a atual proposta do texto do “Balanço Global”, um dos “elementos mais relevantes” da cimeira.
Sobre o que se está a passar no Dubai também o diretor para as alterações climáticas do CDP, uma organização internacional na área do ambiente, Amir Sokolowski, disse que o último texto é “dececionante e francamente perigoso”.
É fundamental que, nas próximas horas, o texto “seja transformado num acordo sólido para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, com objetivos e prazos definidos”, disse, citado numa declaração divulgada esta tarde.
“É evidente que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis não é negociável, mas isso é claramente omitido no último projeto” de Balanço Global, lamenta o responsável do CDP, uma estrutura considerada a principal iniciativa do setor financeiro em relação a mitigação das mudanças climáticas.
A comunidade científica avisa que é preciso reduzir em 45% as emissões de GEE até 2030 (em relação a 2010). A Zero diz que se tal não acontecer é “verdadeiramente dramático”.
A COP28 tem encerramento marcado para terça-feira.