O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, considerou hoje África o “lar da esperança”, mas sublinhou que o potencial do continente só poderá ser concretizado com a “eliminação da sombra do terrorismo que se espalha rapidamente”.
Numa reunião do Pacto Global de Contraterrorismo, na sede da ONU, em Nova Iorque, Guterres focou-se no impacto do terrorismo em África, continente que se tornou num “epicentro global” desse “inferno crescente que está a engolir milhões de africanos”.
O líder da ONU recordou que, em todo o continente africano, o Daesh, a Al-Qaida e os seus afiliados estão a explorar as dinâmicas e fragilidades dos conflitos locais para fazer avançar as suas agendas, ao mesmo tempo que destroem o tecido social de países inteiros “com as lâminas da violência, da desconfiança e do medo”.
Entre os países onde isso acontece, Guterres apontou a Somália, a República Democrática do Congo ou Moçambique, onde o terrorismo continua a ser “uma ameaça ativa” no norte do país.
“Um padrão perturbador é claro. Comunidade por comunidade, os grupos terroristas estão a alargar o seu alcance, a aumentar as suas redes continentais com mais combatentes, financiamento e armas, a forjar laços com grupos transnacionais do crime organizado. E a espalhar medo, miséria e ideologias de ódio através do ciberespaço”, denunciou.
“Em todos os casos, os civis pagam o preço mais elevado. Mas, no final, toda a humanidade paga”, frisou ainda.
Por outro lado, o ex-primeiro-ministro português destacou que, em toda a África, são cada vez mais os exemplos positivos de Estados-membros e organizações sub-regionais que se esforçam para combater o terrorismo e o extremismo violento.
Esses esforços incluem o Grupo de Trabalho Multinacional da Bacia do Lago Chade para combater o Boko Haram, a Missão de Transição da União Africana na Somália, e os esforços da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e do Ruanda para combater o terrorismo no norte de Moçambique.
“Nós próprios [ONU] estamos a trabalhar em estreita colaboração com a União Africana, a CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] e outros em matéria de prevenção, assistência jurídica, investigações, processos, reintegração e reabilitação, e proteção dos direitos humanos”, assinalou.
Outro sinal de progresso indicado por Guterres foi a adoção unânime pelo Conselho de Segurança da ONU de uma resolução sobre o financiamento das operações de apoio à paz lideradas pela União Africana.
As operações de apoio à paz lideradas pela União Africana e autorizadas pelo Conselho de Segurança terão agora acesso ao financiamento proveniente de contribuições fixas da ONU, não excedendo 75% dos seus orçamentos anuais, com o montante restante a ser mobilizado conjuntamente pela comunidade internacional.
“Todas essas são etapas importantes. Mas precisamos de medidas urgentes, numa escala muito maior [do que] temos visto até agora. (...) Os nossos esforços devem estar ancorados no desenvolvimento sustentável e inclusivo”, sustentou.
“Isolamento, desigualdades, acesso limitado à escola, falta de oportunidades de emprego, erosão da confiança no Governo, nas instituições e no Estado de direito, violações dos direitos humanos e perceções de impunidade — em conjunto, estas condições conduzem à propagação do terrorismo. Precisamos acabar com esse círculo vicioso”, exortou o secretário-geral da ONU.