O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, voltou hoje a exigir um cessar-fogo humanitário na Faixa de Gaza e pediu a Israel e ao Líbano, perante a tensão na fronteira, que parem de “brincar com o fogo”.
“Não brinquem com fogo na Linha Azul [demarcação estabelecida pela ONU em 2000]”, apelou o líder das Nações Unidas numa declaração aos meios de comunicação social, cem dias após os ataques do grupo islamita Hamas de 07 de outubro, que espoletaram o conflito na Faixa de Gaza.
Israel destacou mais de 200 mil soldados para a sua fronteira norte, onde cerca de 80 mil pessoas foram retiradas de casa, enquanto mais de 70 mil fugiram do sul do Líbano devido às constantes hostilidades entre o grupo xiita libanês Hezbollah e o exército israelita.
“O que estamos a ver em Gaza não pode acontecer no Líbano e não podemos permitir que o que está a acontecer em Gaza continue”, deixou claro Guterres.
Depois dos ataques do Hamas, que provocaram mais de 1.200 mortos e cerca de 250 reféns, Israel lançou uma ofensiva no enclave palestiniano que já custou a vida a mais de 24 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, segundo dados das autoridades de Gaza.
Numerosas agências da ONU, bem como a maioria dos países, têm apelado a um cessar-fogo na Faixa de Gaza devido ao número esmagador de vítimas civis, uma situação considerada sem precedentes desde que Guterres é secretário-geral das Nações Unidas.
“Nada pode justificar a punição coletiva do povo palestiniano”, acrescentou Guterres, que também apelou à libertação dos reféns israelitas detidos pelo Hamas.
Israel, assim como o seu principal aliado, os Estados Unidos, defende que um cessar-fogo serviria apenas para o grupo islamita se rearmar e voltar a atacar.
O secretário-geral lembrou que a nova coordenadora de ajuda humanitária no enclave, Sigrid Kaag, começou a trabalhar na semana passada, depois de o Conselho de Segurança da ONU ter aprovado uma resolução para aumentar o envio de mantimentos aos palestinianos.
Guterres apelou a todas as partes para que façam esforços para facilitar as funções de Kaag e lembrou que os obstáculos à entrega da ajuda humanitária são claros: acesso seguro, um ambiente pacífico para trabalhar e o regresso da atividade comercial.
Mais de 150 trabalhadores da ONU foram mortos na Faixa de Gaza desde o início da ofensiva israelita, a maior perda de vidas num único conflito na história da organização.