A ONU apelou hoje a Israel para pôr “fim às mortes ilegais” de palestinianos na Cisjordânia ocupada, onde militares e colonos mataram 300 pessoas desde o início da guerra com o Hamas, em 07 de outubro.
Num relatório divulgado na cidade suíça de Genebra, o Gabinete dos Direitos Humanos das Nações Unidas pediu o fim da “utilização de armas militares em operações de aplicação da lei na Cisjordânia”.
Apelou também para que Israel ponha termo “às detenções arbitrárias e aos maus-tratos infligidos aos palestinianos, e que levante as restrições discriminatórias à circulação”.
Todas estas práticas “são extremamente preocupantes”, afirmou num comunicado o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, citado pela agência francesa AFP.
Israel declarou guerra ao Hamas depois de o grupo islamita palestiniano ter lançado um ataque sem precedentes em solo israelita, em 07 de outubro, a partir da Faixa de Gaza.
O ataque causou 1.200 mortos e os comandos do Hamas fizeram ainda 240 reféns que levaram para a Faixa de Gaza, segundo as autoridades israelitas.
Desde então, Israel tem atacado Gaza por ar, terra e mar, numa operação para aniquilar o Hamas que causou até agora mais de 21.000 mortos, segundo o grupo islamita.
O conflito estendeu-se também ao sul do Líbano, com trocas de tiros entre israelitas e militantes do partido libanês Hezbollah, controlado pelo Irão, e à Cisjordânia ocupada por Israel.
De acordo com a ONU, citada pela agência espanhola EFE, das 300 vítimas mortais na Cisjordânia registadas entre 07 de outubro e 27 de dezembro, 291 foram mortas pelas forças de segurança israelitas e as restantes por colonos.
Os colonos atuam por vezes na companhia das forças de segurança israelitas, ou usam eles próprios alegados uniformes de segurança israelitas, disse a ONU no relatório.
Nas primeiras semanas após os ataques terroristas de 07 de outubro, foram registados até seis incidentes de colonos por dia, incluindo tiroteios, ataques incendiários a casas e veículos, e destruição de árvores e colheitas.
“O gabinete da ONU documentou vários casos de colonos que atacaram palestinianos enquanto estes colhiam as suas azeitonas, forçando-os a abandonar as suas terras, roubando as suas colheitas e envenenando ou vandalizando as oliveiras”, lê-se no documento.
Segundo a ONU, as forças israelitas detiveram mais de 4.700 palestinianos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, incluindo 40 jornalistas, e em muitas ocasiões submeteram-nos a maus-tratos.
“Alguns foram obrigados a despir-se, a vendar os olhos e, durante horas, foram imobilizados com algemas e com as pernas atadas, enquanto os soldados israelitas lhes pisavam a cabeça ou as costas”, afirmou.
As pessoas “foram cuspidas, empurradas contra as paredes, ameaçadas, insultadas, humilhadas e, em alguns casos, sujeitas a violência sexual e de género”, relatou a ONU.
“Os abusos documentados no relatório repetem os padrões e a natureza dos abusos cometidos no passado no contexto da longa ocupação israelita da Cisjordânia, mas a intensidade da atual violência e repressão não se via há anos”, comentou Turk.
O alto comissário austríaco apelou ainda a Israel para que “tome medidas imediatas, claras e eficazes” para pôr termo à violência dos colonos israelitas contra os palestinianos.
Pediu que os incidentes cometidos por colonos e pelas forças israelitas sejam investigados e que Israel “garanta a proteção das comunidades palestinianas contra qualquer forma de deslocação forçada”.
Turk também pediu a Israel que permita o acesso da ONU ao país, afirmando que está pronto para produzir relatórios semelhantes sobre os ataques terroristas do Hamas contra civis israelitas em 07 de outubro, que desencadearam o atual conflito.