A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou testemunhos “dilacerantes” que as suas equipas recolheram hoje num hospital da Faixa de Gaza onde se encontram as vítimas do bombardeamento do campo de refugiados de Al-Maghazi.
“A equipa da OMS registou testemunhos dilacerantes do pessoal médico e das vítimas sobre os sofrimentos infligidos pelas explosões”, declarou o chefe da organização da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, no X (ex-Twitter).
“Uma criança perdeu toda a sua família no ataque [israelita] sobre o campo. Uma enfermeira do hospital teve a mesma perda, toda a sua família foi morta”, acrescentou na rede social.
Segundo ministério de Saúde do Hamas, pelo menos 70 pessoas foram mortas num ataque na noite de domingo que atingiu o campo de refugiados de Al-Maghazi, no centro da Faixa de Gaza. O Exército israelita disse que iria “verificar o incidente”.
Numerosos corpos sem vida, em sacos mortuários brancos, foram alinhados junto ao hospital Al-Aqsa, em Deir al-Balah, centro da Faixa de Gaza, antes dos funerais, indicou a agência noticiosa AFP.
Segundo o chefe da OMS, o hospital indicou ter recebido uma centena de feridos após o bombardeamento.
“O número de doentes acolhidos pelo hospital ultrapassa de longe as suas capacidades em camas e em pessoal”, sublinhou. “Muitos não vão sobreviver à espera”.
“Este último ataque sobre uma comunidade de Gaza demonstra por que motivo é necessário um cessar-fogo imediato”, escreveu ainda Ghebreyesus.
Sean Casey, membro da missão da OMS, indicou ter assistido aos cuidados fornecidos a um rapaz de 9 anos gravemente ferido e de nome Ahmed.
“Foi simplesmente tratado através de um sedativo para aliviar o seu sofrimento, antes de morrer”, descreveu num vídeo registado em pleno hospital.
“Ninguém conseguiu fazer nada por ele. Como em tantos outros casos, não existem condições para abordar casos neurológicos complexos, casos de traumatismos complexos”, lamentou.
“As salas de operações trabalham 24 horas sem interrupção. A sala de urgências está muito abaixo das suas capacidades”, acrescentou este responsável da OMS. “Uma situação inaceitável, que tem de parar”, sublinhou.
O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado após um ataque sangrento e sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita em 07 de outubro.
No total, 1.140 pessoas, na maioria civis, foram mortas nesse dia, segundo uma contagem da agência noticiosa AFP a partir dos últimos números oficiais israelitas. Cerca de 240 civis e militares foram sequestrados, com Israel a indicar que 127 permanecem em Gaza.
Em retaliação, Israel, que prometeu destruir o movimento islamita palestiniano, bombardeia desde 07 de outubro a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas de 20.600 pessoas – na maioria mulheres, crianças e adolescentes – e feridas mais de 53 mil, na maioria civis, destruídas a maioria das infraestruturas e perto de dois milhões forçadas a abandonar as suas casas, a quase totalidade dos 2,3 milhões de habitantes do enclave.
A população da Faixa de Gaza também se confronta com uma crise humanitária sem precedentes, devido ao colapso dos hospitais, o surto de epidemias e escassez de água potável, alimentos, medicamentos e eletricidade. Desde 07 de outubro, mais de 300 palestinianos também já foram mortos pelo Exército israelita e por ataques de colonos na Cisjordânia e Jerusalém leste, ocupados pelo Estado judaico.