O secretário-geral das Nações Unidas anunciou hoje que iniciará imediatamente um processo de consultas para nomear um enviado especial da ONU para o Afeganistão, que irá coordenar as relações entre a comunidade internacional e os talibãs.
“É preciso uma melhor coordenação”, declarou António Guterres numa conferência de imprensa no final do segundo dia da reunião internacional para avaliar as relações da comunidade internacional com os talibãs, que acontece em Doha.
Guterres garantiu que este encontro – ao qual os talibãs não compareceram – foi um sucesso e que houve consenso para iniciar este processo de “consultas profundas com todas as partes interessadas” para a nomeação de um enviado da ONU que também “poderia trabalhar eficazmente com as autoridades ‘de facto’ do Afeganistão”.
No entanto, os talibãs não são a favor da nomeação de um enviado especial e afirmam que a já existente Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) é suficiente.
Questionado sobre a ausência dos talibãs da reunião, Guterres disse ter recebido uma carta das autoridades de Cabul com uma série de condições “que não eram aceitáveis”.
“Estas condições, antes de mais, negavam o direito de falar com outras entidades da sociedade afegã e exigiam um tratamento que seria, em grande medida, semelhante ao reconhecimento” daquele governo, afirmou o secretário-geral da ONU, que ao mesmo tempo manifestou o seu desejo que sejam criadas as condições necessárias para que os talibãs participem em futuras reuniões.
Guterres lembrou que o Governo dos talibãs não é reconhecido internacionalmente e não está integrado nas instituições económicas globais, além de a comunidade internacional considerar que não houve melhoria na questão da inclusão no Afeganistão nos últimos anos.
“A situação dos direitos das mulheres e das raparigas em geral deteriorou-se recentemente, de facto, e os problemas da luta contra o terrorismo não foram totalmente resolvidos”, lamentou.
Assim, Guterres referiu que os talibãs acreditam que as preocupações expostas pela comunidade internacional em relação ao Afeganistão não são da sua competência, mas, ao mesmo tempo, querem ser reconhecidos e integrados na comunidade internacional.
“Também não há progresso na questão do reconhecimento e da integração. E um dos nossos principais objetivos é ultrapassar esse impasse e garantir que temos um roteiro onde ambos os lados possam fazer progressos positivos”, acrescentou.
Publicamente, os fundamentalistas consideram que algumas das suas decisões desde que tomaram o poder em agosto de 2021 são puramente internas e, portanto, não devem ser objeto de críticas por parte da comunidade internacional.
É o caso da proibição do ensino superior feminino, das crescentes restrições à liberdade das mulheres ou da repressão das poucas vozes críticas que ousam protestar contra os talibãs.