O Presidente do Ruanda, Paul Kagamé, foi empossado hoje para um quarto mandato, comprometendo-se a “preservar a paz e a soberania nacional” e a “consolidar a unidade nacional”.
Várias dezenas de chefes de Estado e outros dignitários africanos viajaram para assistir à cerimónia de tomada de posse, realizada hoje à tarde num estádio de 45.000 lugares na capital, Kigali, onde a multidão se foi concentrando desde o início da manhã.
Entre os presentes, encontram-se os Presidentes de Angola, João Lourenço, e de Moçambique, Filipe Nyusi, e o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada.
Kagamé, de 66 anos, foi empossado pelo Presidente do Supremo Tribunal, Faustin Ntezilyayo, depois de ter obtido mais de 99% dos votos nas eleições do mês passado.
A sua reeleição nas presidenciais de 15 de julho era esperada, dado o seu controlo com mão-de-ferro sobre o destino deste pequeno país da região dos Grandes Lagos de África desde o genocídio de 1994.
Segundo a comissão eleitoral, venceu as eleições com 99,18% dos votos, resultado que ativistas dos direitos humanos apontaram como uma forte prova da falta de democracia no Ruanda.
Depois de ter atingido o limite de dois mandatos de sete anos, Kagamé pôde voltar a candidatar-se em 2017, graças a uma controversa alteração constitucional introduzida dois anos antes, que consagrou um mandato de cinco anos - com a manutenção de um máximo de dois mandatos. Esta reforma poderá permitir-lhe manter-se no poder até 2034.
Paul Kagamé é o homem forte do Ruanda desde julho de 1994, quando ele e a rebelde Frente Patriótica Ruandesa (RPF) derrubaram o Governo extremista Hutu que instigou o genocídio no qual, segundo a ONU, morreram mais de 800.000 membros da minoria Tutsi.
É-lhe atribuída a espetacular recuperação económica do país desde então, mas tem também sido criticado pela sua falta de abertura democrática, com ativistas dos direitos humanos e a oposição a acusarem-no de governar num clima de medo, intimidação, detenções arbitrárias, raptos e assassínios.
Apenas dois candidatos foram autorizados a concorrer contra ele nas eleições de julho, tendo os outros seis, incluindo alguns dos opositores mais críticos de Kagamé, sido impedidos de o fazer.
Frank Habineza, líder do único partido da oposição autorizado (o Partido Democrático Verde, DGPR), e o independente Philippe Mpayimana obtiveram 0,50% e 0,32% dos votos, respetivamente.
O Ruanda é também acusado de alimentar a instabilidade no leste da vizinha República Democrática do Congo (RDCongo), lutando ao lado da rebelião M23.
O Presidente João Lourenço deverá manter conversações com Kagamé sobre o acordo de cessar-fogo na RDCongo, alcançado no mês passado com a mediação angolana, anunciou Luanda.
Angola negociou o acordo após uma reunião entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da RDCongo e do Ruanda. Mas a 4 de agosto, dia em que deveria entrar em vigor, os rebeldes do M23, que se apoderaram de vastos territórios no leste da RDCongo desde que lançaram a sua ofensiva no final de 2021, tomaram o controlo de uma cidade na fronteira com o Uganda.
Com 65% da população com menos de 30 anos, a maioria dos ruandeses só conheceu como Presidente Paul Kagamé, que ganhou todas as eleições presidenciais que disputou sempre com mais de 93% dos votos.