O suspeito dos tiroteios ocorridos em maio em duas localidades na Sérvia, que fizeram nove mortos e desencadearam grandes manifestações antigovernamentais, foi hoje formalmente acusado de homicídio, posse ilegal de armas de fogo e rapto, segundo um comunicado judicial.
O suspeito identificado como Uros B., que na altura dos acontecimentos tinha 21 anos, é acusado de matar nove pessoas com armas automáticas a partir de um veículo e de ferir pelo menos outras 14, a cerca de 60 quilómetros a sul da capital sérvia, Belgrado, segundo a nota de acusação divulgada pela televisão pública RTS.
O atirador foi detido após várias horas em fuga. O seu pai foi acusado de posse ilegal de uma “grande quantidade” de armas, munições e explosivos.
Estes incidentes ocorreram menos de 48 horas depois de um outro tiroteio numa escola em Belgrado, no qual morreram 10 pessoas, dos quais nove eram alunos do estabelecimento de ensino.
O julgamento dos pais do principal suspeito, que tinha 13 anos na altura do tiroteio e, portanto, não era penalmente responsável ao abrigo da lei nacional, começou hoje à porta fechada na capital sérvia, ainda marcada por este massacre sem precedentes.
A 03 de maio de 2023, um aluno de 13 anos abriu fogo na sua escola no centro de Belgrado, matando oito alunos e um vigilante no local. Um nono aluno ficou gravemente ferido e acabaria por morrer.
Parte da escola continua fechada, pois os pais das vítimas esperam transformá-la num memorial.
O pai do adolescente, acusado de “ato grave contra a segurança geral”, pode ser condenado a 12 anos de prisão.
Segundo a acusação, o pai tinha treinado o filho no uso de armas, levando-o regularmente a um campo de tiro.
É também acusado de não ter guardado corretamente as armas e as munições, o que permitiu ao filho levar uma pistola de nove milímetros e vários carregadores. A mãe, que comparece juntamente com o marido, foi acusada de posse ilegal de munições.
No banco dos réus, encontram-se também o diretor de um clube de tiro e um instrutor, suspeitos de terem prestado falsos testemunhos.
“Espero um julgamento legal e justo em que, no fim, o tribunal irá condenar os arguidos”, afirmou hoje o Procurador-Geral sérvio, Nenad Stefanovic, ao canal de televisão sérvio RTS.
Estes tiroteios abalaram a Sérvia e desencadearam manifestações maciças contra o Governo, sob o lema “Sérvia contra a violência”.
Na altura, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para pedir a demissão do ministro do Interior e do chefe dos serviços de informações, e para acusar o executivo de ter criado ou tolerado um “clima de violência” na Sérvia.
Os manifestantes também atacaram regularmente os canais de televisão Pink e Happy TV, próximos do Governo e que transmitem uma série de ‘reality shows’ considerados altamente violentos.
A Sérvia tem a taxa de posse de armas mais elevada da Europa, com mais de 39 armas de fogo por cada 100 civis, segundo o projeto Small Arms Survey.
Após os tiroteios de maio, o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, anunciou um vasto plano de “desarmamento”.
Segundo o Ministério do Interior, entre 08 de maio e 30 de junho de 2023, os cidadãos sérvios entregaram 82.000 armas e mais de 4,2 milhões de cartuchos de munições.