A agência da ONU para os Direitos Humanos acusou hoje a junta militar birmanesa de 61 ataques em áreas afetadas pelo terramoto da semana passada, incluindo 16 após o anúncio de cessar-fogo temporário de 02 de abril.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, entre os ataques efetuados, vários foram feitos através de bombardeamentos e com recurso a drones.
“Também recebemos relatos de que os militares continuaram o recrutamento, incluindo de jovens que estavam a ajudar nas operações de resgate”, disse a porta-voz do gabinete, Ravina Shamdasani, em conferência de imprensa.
O gabinete liderado pelo alto-comissário Volker Türk sublinhou que os militares continuam a restringir a circulação nas áreas atingidas pelo sismo em Myanmar (antiga Birmânia), incluindo grandes cidades na região de Sagaing e nos estados de Bago e Shan, deixando algumas áreas afetadas inacessíveis a ajuda humanitária.
“Fontes no local descrevem uma situação humanitária catastrófica em áreas devastadas pelo terramoto, especialmente as que estão sob controlo militar, devido à falta de ajuda humanitária e à escassez de água potável, alimentos e medicamentos”, descreveu o alto-comissário, em comunicado.
Segundo o seu gabinete, os bloqueios da internet e de outras telecomunicações impostos pela junta militar agravam a crise ao dificultarem o acesso às comunidades afetadas e a uma avaliação adequada das suas necessidades.
Perante esta situação, Türk exigiu que as partes respeitem o cessar-fogo temporário anunciado e que este seja acompanhado de um acesso imediato e sem restrições das equipas de resgate e humanitárias às zonas mais afetadas pelo sismo, que provocou mais de 3.000 mortos e cerca de 5.000 feridos.
“Espero que esta terrível tragédia seja um ponto de partida para o país caminhar para uma solução política inclusiva”, afirmou.
Já na quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, tinha saudado o anúncio de um cessar-fogo temporário e pedido que a suspensão dos combates levasse rapidamente a um “diálogo político sério”.
Guterres anunciou aindaque iria enviar para Myanmar o coordenador de Assistência de Emergência da ONU, Tom Fletcher, para avaliar a situação no local, responsável que deverá chegar hoje àquele país, e também uma enviada especial, Julie Bishop, para reforçar o compromisso da ONU “com a paz e o diálogo”.
O sismo, com uma magnitude 7,7 na escala de Richter, motivou uma declaração de emergência em seis regiões, provocou a derrocada ou danos parciais em quase 21.800 casas, 805 edifícios de escritórios, 1.041 escolas, 921 mosteiros e conventos, 1.690 pagodes, 312 edifícios religiosos, 48 hospitais e clínicas e 18 hectares de plantações, segundo a junta militar.
Os danos causados pelo sismo vieram somar-se aos da guerra civil em curso no país, entre a junta militar que tomou o poder num golpe de Estado em 2021 e várias guerrilhas étnicas.