A Comissão Europeia recusou hoje comentar a substituição do principal comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Valery Zaluzhny, insistindo que nada muda no apoio que a União Europeia está a dar ao país na guerra contra a Rússia.
”A substituição do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia é uma decisão interna e é uma prorrogativa do Presidente [...], vamos continuar a apoiá-la independentemente da pessoa que está à frente das Forças Armadas”, disse em conferência de imprensa a porta-voz para os Negócios Estrangeiros, Nabila Massrali, em Bruxelas.
Os principais partidos da oposição ucraniana criticaram hoje o Presidente Volodymyr Zelensky por ter demitido o chefe das Forças Armadas, general Valery Zaluzhny, cuja substituição por Oleksandr Syrsky, foi ordenada na quinta-feira pelo chefe de Estado.
Oleksi Goncharenko, um dos membros mais ativos do partido de centro-direita Solidariedade Europeia, do antigo Presidente Petro Poroshenko, descreveu a decisão de Zelensky de demitir Zaluzhny como um “enorme erro”.
”[A demissão] pode representar riscos para o país. Todos pagaremos por este erro”, escreveu o deputado da região de Odessa, que elogiou o trabalho do chefe das Forças Armadas, que, refere, não será compreendido nem pela sociedade ucraniana nem pelos parceiros internacionais de Kiev.
”Milhões de pessoas falam de honra e dignidade. Obrigado, Sr. General (Zaluzhny)!”, escreveu nas plataformas digitais a antiga primeira-ministra e líder do partido Pátria, Yulia Timoshenko.
Inna Sovsun, membro do partido europeísta ucraniano de centro liberal Golos (Voz), afirmou hoje que o Presidente ucraniano tem o direito de decidir sobre o comando do Exército, mas criticou a forma como a substituição foi comunicada e explicada.
”O Presidente deve explicar direta e abertamente porque o fez”, escreveu Sovsun nas redes sociais, alertando para o risco de os rumores e especulações “alegadamente alimentados” pelo gabinete do chefe de Estado antes da oficialização da demissão poderem vir a afetar a unidade do país em plena guerra.
”A comunicação oficial é vaga e incoerente. Os canais anónimos da [rede de mensagens digital] Telegram não a vão substituir, mesmo que alguns deles sejam controlados pelas autoridades ucranianas”, acrescentou Sovsun, referindo-se a alguns dos canais que há dias fazem insinuações sobre a mudança no Exército.
O presidente da Câmara de Kiev, Vitali Klichko, adotou uma posição semelhante.
”Espero que as autoridades justifiquem estas mudanças perante a sociedade”, escreveu o autarca, que nos últimos meses criticou as posições de Zelensky face ao Exército, considerando o chefe de Estado “individualista e autoritário”.
Klichko alertou para as possíveis consequências que a substituição de Zaluzhny pode vir a ter nas relações da Ucrânia com os parceiros estrangeiros e perante a própria sociedade ucraniana.
”A unidade da sociedade exige autoridades em quem confiar”, observou.
De acordo com uma sondagem publicada em dezembro, 88% dos ucranianos mantinham confiança no general Zaluzhny.
Na mesma pesquisa, 62% por cento dos inquiridos disseram confiar em Zelensky.
O influente jornalista ucraniano Vitali Portnikov também criticou na quinta-feira a demissão de Zaluzhny, afirmando que Zelensky “deitou fora”, de forma irresponsável, o capital de confiança do general no Exército e perante a sociedade ucraniana.