O líder do Chega garantiu hoje ao primeiro-ministro indigitado que não vai contar com o seu partido neste ciclo político e vai ter de governar com o PS, após várias forças políticas o terem acusado de bloqueio institucional.
No período de intervenções após o discurso do novo presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, André Ventura considerou que, na composição para a mesa do parlamento, o PSD tinha a escolha de “ou fazer uma convergência à direita, ou escolher os parceiros de sempre de viagem”, numa alusão ao PS.
“Hoje, Luís Montenegro escolheu e não teve dúvidas: o caminho é governar com o PS, é fazer acordo com o PS. Luís Montenegro, cara a cara te digo: governarás com o PS, porque com o Chega não contarás neste ciclo político”, disse, perante um longo aplauso da sua bancada.
Esta intervenção de André Ventura surgiu depois de a maioria dos partidos ter acusado o Chega de fazer um bloqueio institucional ao chumbar o nome de José Pedro Aguiar-Branco para a presidência do parlamento.
O futuro líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, foi o único que não abordou diretamente esse impasse, dirigindo a Aguiar-Branco felicitações, mas “também boa sorte no desempenho das suas funções”, e pedindo que todas as bancadas saibam “honrar o sentido de confiança” dos portugueses.
O compromisso do PSD é “com as pessoas concretas, com aquelas a quem pouco lhe diz a trica política”, garantiu.
Por sua vez, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, prometeu uma oposição “programática, política, ao Governo de direita”, mas sem ser “oposição ao país ou bloqueio das instituições democráticas”.
“O senhor presidente está hoje aqui como o primeiro entre nós porque um partido responsável faz oposição, mas não faz oposição ao país, nem bloqueia uma instituição como a Assembleia da República. Teremos muito tempo para marcar a divisão clara de água nas opções políticas (...) não contam connosco é para degradar mais as instituições da República e a Assembleia da República”, disse.
Já a líder da IL, Mariana Leitão, acusou PS e Chega de se terem unido “num bloqueio ao país” e considerou que o impasse à volta da presidência do parlamento mostra que “não se pode confiar num partido populista e irresponsável que não tem nenhuma solução para o país”, apontando ainda “o fim da hegemonia do PS” com as eleições.
Pelo BE, o líder parlamentar, Fabian Figueiredo, disse esperar que Aguiar-Branco faça uma “defesa intransigente da democracia parlamentar” e que “envide todos os esforços para evitar a captura da Assembleia da República pelos jogos de poder de quem se concentra meramente na sua degradação”.
“A direita é confusão, trapalhadas e barafunda, não se entendem sequer para a mesa da Assembleia da República. (...) Não temos dúvidas, no entanto, de que não assistiremos a este lamentável braço de ferro quando chegar a hora de defender o privilégio” dos grupos económicos, disse.
A líder parlamentar do PCP, Paula Santos, considerou que a eleição para a presidência do parlamento foi um “folhetim lamentável” que, apesar “das manobras e dissimulações sobre acordos e desacordos, não iludem a identificação de objetivos que une o conjunto da direita e a sua convergência ao serviço do capital monopolista”.
Por sua vez, a líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, lamentou que Aguiar-Branco não tenha falado com o seu partido antes de ser eleito e questionou como “vai impedir que deputados insultem outros deputados”.
Já o líder do CDS, Nuno Melo, acusou o Chega de “um bloqueio do normal funcionamento das instituições democráticas”, considerando que esteve “a brincar com o parlamento”, e disse que os centristas vão mostrar que dois deputados podem valer “muito mais” do que 50.
A deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, lamentou que esta legislatura traga “grandes desafios” e “retrocessos”, desde logo na igualdade de género, tendo em conta que há menos mulheres representadas no parlamento, e garantiu ao Chega que “não passarão”.