Em dia de aniversário, mais do que uma resenha histórica ou uma análise do presente momento do concelho, considero mais relevante uma reflexão séria e objetiva sobre os desafios do futuro próximo.
Em 2022, a verdade é que vivemos num contexto de incerteza; saídos de uma pandemia com consequências sanitárias, sociais e económicas transversais, assistindo a uma guerra na Europa que afeta o poder de compra de todos os cidadãos e que cultiva em todos nós receios, urge traçar um percurso coletivo que não condene Santana ao despovoamento e ao marasmo.
Na minha opinião, o maior desafio de Santana é definitivamente o despovoamento! A cada ano que passa perdemos população de todas as formas; nascem cada vez menos crianças, os jovens saem e são poucos os que voltam, e os mais idosos vão partindo para a eternidade numa proporção que continua a ser superior aos nascimentos.
Os números dos Censos de 2021 são muito claros e demonstram que todos os municípios da Região perderam população na última década, sendo nos municípios de Santana e São Vicente que a redução no número de habitantes foi mais expressiva (-15,1% e 15,0%, respetivamente); dissecando os dados de forma mais objetiva, em Santana passámos de 7719 em 2011 para 6558 habitantes em 2021. Muitos de vós poderão pensar e com razão que o despovoamento é um flagelo que não diz apenas respeito a Santana, mas sim que é uma epidemia silenciosa que afeta toda a costa norte do nosso arquipélago, e sim, caro leitor, tem toda a razão!
É evidente que as fórmulas adotadas por algumas autarquias para atribuir incentivos monetários que apoiem a natalidade, não estão a resultar, porque continuamos a assistir ao êxodo de muitas famílias e casais em idade fértil para fora destes territórios cada vez mais despovoados; a verdade é que quase todas as freguesias do eixo norte da nossa ilha, tipicamente rural, necessitam urgentemente de uma lufada de ar fresco, sob pena de se perderem identidades locais e de condenarmos determinados locais ao abandono e ao esquecimento.
O debate sobre o despovoamento das áreas rurais, se mal interpretado, surge como uma imposição que não só não toma em consideração o facto de o direito ao lugar ou permanecer na localidade ou município em que se vive é tão importante quanto o direito à mobilidade, ou seja, a procurar noutros locais, por vontade própria, as oportunidades pessoais, profissionais e familiares desejadas, como não leva em conta que o importante é dar condições para que cada cidadão possa escolher a sua opção preferida.
As dinâmicas demográficas em áreas rurais resultam de interações complexas entre características biofísicas locais e genéricas e modelos socioeconómicos de desenvolvimento; às políticas públicas cabe um papel importante na regulação destas interações.
E perante este cenário, as instâncias locais podem e devem ser parceiras de quem quer investir e se fixar, e devem, antes de tudo, desburocratizar! Não compliquem a vida às pessoas, pelo amor de Deus! Não quero com isto dizer que se deva promover a ilegalidade ou o arranjinho, nada disso; digo sim com toda a frontalidade, os decisores devem dar um seguimento mais célere e mais eficaz a todos os investimentos e a todos os cidadãos, comunicando e não complicando!