A palavra é o compromisso que fazemos com alguém, é dizer algo que vamos fazer ou manter como certo.
Há 9 anos, fui ao funeral do bisavô dos meus filhos e ouvi o padre a elogiá-lo com “morreu um homem de palavra”, o padre fez um enorme discurso a confirmar a honra da palavra que este senhor teve. “Ninguém lhe pedia assinatura porque ele tinha palavra”.
Este senhor se fosse vivo teria 101 anos.
Foi um homem da terra, trabalhou nas suas e nas terras de outros, respeitando sempre os compromissos que fazia, era falado pela palavra que sempre teve, nasceu no século passado, mas morreu neste século.
Nos nossos dias a palavra parece que não vale nada. Mesmo assinando podemos não cumprir. O tribunal está cheio de processos assinados e não cumpridos. Chegamos ao cúmulo de ter medo de assinar algo, não vá o papel ter algo que nos possa enganar. Desconfiamos das letras pequeninas.
Vivemos no século da desconfiança, ninguém confia em ninguém sem ser nos “seus”. Mas os “seus” de hoje podem não ser os de manhã.
Esta falta de palavra como algo assente vai ainda mais longe, mexendo com serviços e equipas de trabalho.
Um dia destes ouvi de alguém: “Tens de compreender que quando alguém gere algo tem de dar cargos a pessoas da sua confiança. Não farias o mesmo?”
Ao que respondi: “Não! Quem dá apenas cargos a pessoas de confiança, demonstra que a confiança vale mais que a competência.”
Os cargos de confiança para mim são injustos e perigosos. São pessoas que chegam/escolhidos a/de equipas de trabalho com uma única característica provada, que é o facto de ser de confiança de X ou Y.
A equipa, na maioria dos casos, não é tida em conta, mas naturalmente acata com a decisão. Ouvimos: “Tem de ser, faz parte!”
Mas a base disto é o assumir que já não há palavra e, como tal, os chefes têm de se rodear de quem confiam.
O argumento “Tenho de me rodear de quem confio”, é muito perigoso, concordo que à nossa casa vão estas pessoas, as que gostamos e naturalmente confiamos. Mas nos cargos não me faz sentido nenhum.
Em vez de quem confiam, deviam de procurar pessoas com perfil, experiência e formação para tal. Presente em qualquer idade e género. Para mim todos os cargos têm de ser selecionados por equipas com competência para tal.
Olhando à nossa volta, se fecharmos os olhos e pensarmos nos cargos que nos rodeiam, quantas pessoas seriam demitidas por não terem experiência ou competência para o cargo que hoje ocupam?
Outro problema é a grande dificuldade que surge por quem ocupa um cargo de confiança “hoje” em aceitar deixar esse cargo “amanhã”, ou seja, foram escolhidos pela confiança de alguém, aceitaram, tendo a perfeita noção da razão por lá estarem, mas depois quando têm de sair fazem tudo para manter o lugar. Porque, entretanto, mudaram-se as chefias e agora já não são de confiança.
A verdade é que alguns destes cargos são dados a pessoas que se adaptam bem e as coisas correm muito bem, depois quem não quer os perder é a própria equipa. Facto que não é tido em conta pelas chefias.
Se os cargos fossem todos por eleição e mérito, a competitividade seria muito mais saudável, o investimento e mérito pessoal/equipa seria mais valorizado não haveria espaço para as “clivagens medíocres”. A missão seria o único lema. As assinaturas seriam dadas pelo compromisso da palavra.