A nossa identidade, como gente das ilhas, é feita de mar e de montanhas, de sal e de saudade. Talvez a geografia tenha traçado o nosso destino de pés na terra e horizonte no olhar. Talvez o imaginário poético-simbólico onde crescemos nos tenha moldado assim: resilientes, aventureiros, enraizados no chão de pedra, mas com os olhos em frente, porque, em muitos momentos da nossa vida ilhoa, o futuro e a esperança ficavam para lá do risco azul do mar.
O mar já não é uma prisão para os ilhéus. A (nossa) História mostrou-nos que as ilhas são, afinal de contas, cais do mar, lugares de partidas e de chegadas, lugares de aventuras e aprendizagens, lugares que, para quem vem de fora, é preciso aprender a amar.
Nenhuma ilha é igual a outra ilha. Mas todas elas esculpem as gentes que nelas nascem ou nelas plantam a vida. A identidade do ilhéu - a nossa própria identidade - é muito geográfica. Somos pedra e somos água, somos terra e somos vento e vivemos constantemente com a alma agarrada a sedes de regresso quando nos vamos embora e a vontades de partir com o apito dos navios que nos acendem os desejos de embarcar.
Sempre que partimos, levamos a ilha às costas do coração, levamo-la dentro da mala que nos acompanha no mundo; ela compõe grande parte da arquitetura da nossa personalidade. Isto de sermos ilhas acompanhar-nos-á a vida toda. Aliás, as palavras são de Daniel de Sá, na Ilha Grande Fechada, «Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela».
Pertencemos às nossas ilhas. Não sei se habitamos nelas ou se elas fizeram morada em nós. A verdade é que lhes pertencemos. E elas são nossas. Mesmo quando nos doem, são nossas. E conhecemos bem as luzes e as sombras, os silêncios e os gritos do que nos rodeia todos os dias. Nós, os ilhéus, somos assim.