MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Engenheiro

20/07/2023 08:00

Mas, no decorrer de alguns acontecimentos da semana passada, motivados por quebras nas redes de distribuição de água para consumo público em dois municípios da Madeira, constatamos que para além das contingências referidas anteriormente e que advêm das características do nosso território, teremos ainda de juntar a demagogia e o aproveitamento político, ainda por cima com recurso a inverdades e ilusionismos...só faltava esta.

A forma deliberada como se tentou desviar as atenções dos verdadeiros problemas, em vez de os enfrentar de frente e com soluções no terreno é confrangedora. Esta postura não é digna e a formulação da teoria completamente forjada de que uma entidade pública, cujo desígnio é servir e salvaguardar o bem-estar de toda a população da Região, e que esta terá cortado ou cerceado o abastecimento de água, que a culpa é dos outros e que estão a ser alvo de "bullying" hídrico é digna de Maquiavel. Os fins não devem justificar os meios, a não ser para entregar água à população.

Um ditado popular diz que quem dá o que tem, a mais não é obrigado. O povo também diz que não se deve gastar o que não se tem. A sabedoria popular estabelece aqui dois grandes princípios e que se aplicam de forma magistral às situações ocorridas. Os sistemas que sofreram falhas no abastecimento são sistemas fechados, sem redundância, a água é disponibilizada com origem em galerias que têm a sua produção limitada pela natureza, é a água disponível e toda ela foi disponibilizada, até à última gota. Os volumes disponíveis são significativos, mas quando os sistemas por vicissitudes várias apresentam consumos anormais e muito consideráveis, a rotura do abastecimento fica iminente e o colapso das redes é uma realidade.

Na voracidade de atacar politicamente o Governo Regional através da ARM, quem o fez, fê-lo de forma inconsciente e atentatória. A ARM não é uma entidade abstrata, a ARM são homens e mulheres que todos os dias trabalham em prol da população da Madeira e do Porto Santo. As equipas que se dedicam à captação, produção, tratamento e adução e gestão da água, são equipas altamente qualificadas e todos os dias têm uma missão: fazer chegar a água onde ela é precisa e a quem dela precisa. Estas pessoas realizam um trabalho digno e responsável, não merecem esta desconsideração.

A situação elaboradamente inventada, com o propósito maior de criar um bode expiatório, revela um comportamento de negação em relação ao problema real e como todos nós sabemos, enquanto estivermos num processo de negação, não estamos no processo de resolução. É urgente avançar para o terreno, as redes têm que ser reparadas e melhoradas, elaborar projectos, os sistemas têm de ser requalificados, é preciso arregaçar as mangas e trabalhar, trabalhar muito e trabalharmos todos.

Não ficaria bem com a minha consciência se não aproveitasse este pequeno espaço para homenagear publicamente o Sr. Delfino Abreu Figueira e deixar os meus sentimentos à família e aos colegas deste valoroso trabalhador que no decurso de uma das obras hidráulicas da ARM sofreu um acidente fatal na semana passada. Para não nos esquecermos do valor e da coragem dos nossos, deixo-vos uma frase do Eng. Manuel Amaro da Costa: "Esvai-se no tempo a recordação do que se passou, mas temos sempre presente a sensação do alívio sentido em cada anoitecer quando, ao findar a tarefa diária verificávamos que nos tinha sido dada a graça de chegarmos, todos e incólumes, à toca na qual nos acoitávamos".

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