Porém, a história da seleção portuguesa neste mundial (e quiçá do próprio mundial) centrou-se à volta de Cristiano Ronaldo. Se jogava ou não jogava, se embirrava ou não embirrava. E de todo o circo mediático à volta do jogador. Porém, mesmo assim, a nossa seleção cotou-se entre as 8 melhores do torneio (em 32 recorde-se) e só não passou Marrocos porque não fez tudo o que deveria (e poderia) ter feito. E assim, porque o tempo é de frustração, muitos já questionam, mesmo que à socapa, se a presença do Cristiano foi mais prejudicial do que benéfica à campanha portuguesa.
Para responder a esta questão é preciso perceber quem é o Cristiano Ronaldo. Muitos dirão que é o melhor jogador de todos os tempos. Outros um dos melhores. O que é inquestionável é que o nome do madeirense ficará gravado eternamente na história do futebol profissional e do desporto em geral. Quer pelos títulos individuais e coletivos conquistados, quer pelos inúmeros recordes e façanhas que alcançou ao longo da sua carreira. Quando decidir pendurar as botas, muitas décadas passarão até que algum outro jogador alcance as suas marcas. Se isto já pesa imenso na bagagem que acompanha o Cristiano, é preciso entender que CR7 não é apenas um jogador de futebol. Jogadores há muitos, mas só há um Cristiano Ronaldo.
Hoje, independentemente da sua prestação nas quatro linhas, o português é um fenómeno à escala mundial. Uma superestrela como as que brilham forte em Hollywood. E, naquilo que é hoje o mundo global, é o maior influencer digital do mundo.
Já com o mundial a decorrer o Cristiano Ronaldo atingiu a marca de 500 milhões de seguidores no Instagram, tornando-se na primeira pessoa em todo o Mundo a consegui-lo. Com estes números, apenas a própria conta do Instagram tem mais seguidores que Ronaldo, com 569 milhões. O português já soma, em todas as redes sociais onde está presente (Facebook, Twitter e Instagram) mais de 750 milhões de seguidores.
Cada post que o Ronaldo publica tem em média uns inacreditáveis 9 milhões de "likes" e gera normalmente cerca de 50 mil comentários. Esses números são até maiores em assuntos não relacionados com o futebol. A última postagem com a família atingiu qualquer coisa como 12,2 milhões de "likes" e mais de 88 mil comentários. E a mais recente e famosa foto com o Messi gerou até à data qualquer coisa como 41 milhões de "likes" e mais de 500 mil comentários! E nem as polémicas que surgem à sua volta - como o caso do telemóvel do miúdo autista ou a cisão com o Manchester United ou a polémica com Fernando Santos - lhe tiraram seguidores. Pelo contrário, só lhe trazem mais notoriedade e mais seguidores nas redes sociais.
Enquadrando isto mais para que se perceba o que é CR7, para além de ser a pessoa mais seguida no Instagram é também a personalidade que faz mais dinheiro naquela rede social. Em média, cada post rende à conta bancária do português cerca de 2,3 milhões de euros, de acordo com os dados da especializada Hopper HQ. Atrás do português vêm figuras bem conhecidas do público como Selena Gomez, Dwayne "The Rock" Johnson, Ariana Grande, Beyoncé ou as irmãs Kardashian.
Depois há quem paga fortunas só para estar ao pé do Cristiano Ronaldo. Em 2017 uma mulher americana desembolsou 37,7 mil dólares (cerca de 35 mil euros), para passar somente uma hora com o craque português. Em 2019, a Juventus deslocou-se à Coreia do Sul para um amigável contra uma equipa de estrelas da liga coreana. Cristiano Ronaldo não saiu do banco de suplentes e, furiosos, um grupo de adeptos sul coreanos processou a Juventus e os organizadores do jogo por danos morais e publicidade enganosa, pois diziam que haviam pago para ver o astro português. Ainda agora no Qatar, foram imensas as pessoas que confessaram que acompanharam a seleção portuguesa apenas para ver o jogador português de perto. É este, o nosso Cristiano!
Depois há Ronaldo, o futebolista. E, porque não há como fintar o passar do tempo, este caminha para o triste dia em que dirá adeus ao futebol enquanto jogador. E apesar de estatuto de sobrehumano ele é, de facto, humano, com todas as limitações que o seu corpo impõe. Bastará lembrar que o Cristiano chegou a este mundial carente de uma pré-temporada e com pouca utilização no seu clube. Aos 37 anos a falta de ritmo pesa. A equipa portuguesa aterrou no Qatar, inevitavelmente com Ronaldo no lote, mas sem se ter preparado para as suas limitações físicas (algo que, bem trabalhado, passaria por óbvios menos minutos de jogo do capitão, mas com maior qualidade nas suas ações). E sobretudo não previu todo o peso mediático do seu capitão, especialmente quando todos o procurariam por previsivelmente ser o seu último mundial. E, consequentemente, sem se preparar para o tsunami dos media à volta do português e inevitavelmente da equipa portuguesa. O resultado foi o que se viu e este foi, para mim, o pecado de Portugal neste mundial.
Respondendo à pergunta: o melhor do mundo nunca é uma influência negativa. E nunca o Cristiano futebolista, com toda a sua ambição, experiência e qualidade, poderia ser uma influência negativa no grupo. Mas lidar com a fama de uma estrela à escala planetária e com tudo o que isso acarreta, não é para todos. Claramente não o foi para quem de responsabilidade.
No final do dia ficam as lágrimas do capitão. Que são as lágrimas de um país.
Luís Miguel Rosa escreve à segunda-feira, de 2 em 2 semanas