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Artigo de Opinião

O ESPÍRITO DOS TEMPOS

18/06/2021 08:02

Certas coisas não mudam. E como não mudam, sempre ajudam a alumiar a decadência inevitável da pátria e a sua chegada, com estrondo, aos últimos lugares da Europa civilizada.

Por melhores discursos que se façam no dia de Portugal, o país não dá sinais de emenda quando não há distância moral, quanto mais ética, entre os flibusteiros do regime e os potes de mel. Num país pequeno, sempre dependente do Estado, o favor e a cunha são mais importantes que o mérito e o trabalho. Não se estranhe, portanto, a subserviência dos que, comprometidos com o regime, acabam guarnecidos graças à bajulação, uma arte que exige estômago, memória curta, capacidades camaleónicas e números de contorcionismo. O caso de Pedro Adão e Silva, comentador de rádios, de jornais, de blogues, de redes sociais e de televisões (ufa), é apenas mais um exemplo da consanguinidade perigosa que grassa no espaço mediático e do modo como a alta política paga a alguns dos seus.

O país observa, impávido e sereno, a este deboche instituído, um deboche que degrada as instituições ocupadas com a maquinaria pesada socialista, enquanto se amansa as liberdades acorrentadas aos interesses económicos e aos interesses das corporações. A isto junta-se o ambiente empestado de ar pútrido que nomeia ex-ministros para mandar nas "autoridades", que põe crianças a brincar com empresas de aviação ou que faz da Assembleia da República uma passadeira para o regresso da censura, sem votos contra. O resto são os casos acumulados, os escândalos semanais, os crimes sortidos e as artimanhas variadas envolvendo quase sempre socialistas ou gente relacionada com eles, assuntos que terminam invariavelmente sem culpados aparentes. Ou sem responsabilidades apuradas, como no caso de Fernando Medina, um presidente de câmara que andou a fornecer dados pessoais a uma autocracia que já assassinou cidadãos seus em países estrangeiros.

O que está a acontecer em Portugal é grave. É assustador. É grave pela quantidade de descerebrados ao serviço da máquina tenebrosa que é o PS e pelo à-vontade com que se afasta a gente incómoda, enquanto se prepara o banquete da bazuca. É assustador pelo modo como brincam com o dinheiro dos outros e pela forma como condicionam a opinião pública comprando a opinião publicada. As metas justificam os fins. Perto desta gente, qualquer mal-encarado é menino de coro.

O povo, hipnotizado pela grandeza da estirpe, talvez não entenda ainda os perigos da sua vertiginosa inconsciência perante os malabaristas do regime. Está manipulado pelo maniqueísmo, um mundo dividido em trincheiras de bons e maus, onde a bufaria e a delação são premiadas e onde se estende a passadeira vermelha para deixar passar a realeza que nos pastoreia.

É por isso que eu acredito, e ao contrário do que por aí se apregoa, que o crescimento da extrema-direita no país tem mais que ver com a teia que mina as funções do Estado (um problema) e a confiança de certas camadas da população num país decente (outro problema), do que com a imigração, crime, racismo ou insegurança - questões, não menores, mas estrategicamente empoladas.

Em Portugal, a esquerda é dona única da verdade, da República, da democracia, do Estado, da liberdade, dos direitos. Pelo meio, sonega autoridade a quem vive dela, cria pântanos onde devia ter chão firme e recusa-se reformar o país para torná-lo mais justo, equilibrado e competitivo. Mas tal como no ocaso dos impérios, a soberba e a arrogância estão a corroer a engrenagem que só se aguenta porque vive e sobrevive do dinheiro que vem de fora. Um abanão forte, e o sistema cai de podre. Quase 900 anos de história, e nem isso seria uma originalidade.

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