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“À espera do Estado português ainda andávamos em carros de bois”

Lígia Neves

Jornalista

Data de publicação
19 Janeiro 2024
15:27

O presidente da Câmara Municipal do Funchal, Pedro Calado, apontou esta tarde, na abertura da conferência ‘Direito e Economia Social. Um diálogo luso-brasileiro’, o “esquecimento” do Estado português relativamente às Regiões Autónomas.

“Muitas vezes somos esquecidos por estar longe de Portugal continental”, sublinhou o edil, referindo ser esta “uma guerra que é travada todos os dias”.

Recordando a sua passagem pelo Governo Regional, Pedro Calado reiterou que “os nossos irmãos do ‘retângulo’ português faziam diplomas para levar à Assembleia da República e esqueciam-se de incluir as Regiões Autónomas”.

“Somos tratados como 2,4% da população”, frisou, acrescentando que essa percentagem é referência para o PIB, para os apoios económico-financeiros e toda a quantificação e apoio que é dado. “Fazemos parte de um País, mas somos um número”, enfatizou.

Tendo isto em consideração, o autarca sublinhou que “se não fosse a solidariedade da União Europeia” a Região “certamente não teria o desenvolvimento que hoje tem”, considerando que “nos últimos 30 ou 40 anos a Madeira desenvolveu-se muito mais com apoios e fundos da União Europeia do que do Estado Português.”

“À espera do Estado português ainda andávamos em carros de bois na Avenida do Mar”, criticou Pedro Calado.

“Falsa pobreza”

Na ocasião, mais recordou o edil que a população madeirense está a envelhecer e a perder natalidade, o que “significa que na análise estatística estas pessoas com mais de 65 anos, como muito delas não trabalharam, nem descontaram, hoje são tidas como pobres”, o que a seu ver traduz “uma falsa pobreza”.

Lembrando que atualmente estas pessoas têm apoio das juntas de freguesia, casas do povo, associações, câmaras municipais, do governo regional e recebem rendimento mínimo e “ainda assim são consideradas pobres”, o autarca refere que “há muita dificuldade em conseguir pessoas para trabalhar, porque não há mão de obra disponível”. “É pobre aquele que ganha um rendimento inferior ao IAS? Se calhar não porque tem outro tipo de apoios que antigamente não tinha”, refletiu, questionando se “é este o caminho certo?”.

“Estamos continuamente a dar o apoio social, não há coragem política para reformar o sistema e obrigar as pessoas a trabalhar, para terem mais rendimento e produzirem mais”, afirmou Pedro Calado, considerando que “hoje tempos um País muito existencialista, que dá mais apoios às pessoas e quando nos lembramos de apoiar as empresas e criar incentivos ao investimento somos vistos como fascistas e amigos do poder”.

Mais frisou o autarca que é importante “nunca esquecer que o dinheiro que se distribui pela sociedade é fruto do trabalho de muitas pessoas”, pelo que essa política distributiva “tem de ser muito bem pensada e quantificada”.

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