Relatos de cheiros estranhos a bordo de um voo entre o Funchal e Lisboa, no dia 11 de março, antecederam a emergência que levou um Airbus A321neo da TAP, com destino a Londres, a divergir para o Porto.
A situação consta do boletim trimestral divulgado esta quinta-feira pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), que detalha a sucessão de eventos ocorrida naquele dia.
De acordo com o relatório, tudo começou logo no primeiro voo da aeronave, entre Lisboa e o Funchal, onde foi registada a presença de ”cheiros estranhos na zona traseira da aeronave”. No Funchal, os serviços de manutenção inspeccionaram os dois motores e a APU (Unidade Auxiliar de Potência), mas não encontraram qualquer anomalia.
Contudo, no voo seguinte, entre o Funchal e Lisboa, os cheiros voltaram a ser reportados, surgindo durante a descolagem e desaparecendo de seguida.
Mais tarde, naquele que seria o terceiro voo do dia para a aeronave – desta vez com 192 passageiros a bordo e destino a Londres Heathrow – a situação agravou-se. Já em espaço aéreo espanhol, um dos membros da tripulação começou a sentir náuseas. Pouco depois, outros elementos também se queixaram de sintomas semelhantes.
Sem cheiros ou fumo no cockpit, a tripulação optou por manter o nível de voo e avaliar a situação durante alguns minutos. Dado o histórico recente de odores a bordo, os pilotos decidiram então desviar o avião para o Aeroporto do Porto, cumprindo os procedimentos estabelecidos, incluindo o uso de máscaras de oxigénio.
Durante a aproximação ao Porto, alguns passageiros também referiram sintomas, o que levou à declaração de emergência e à solicitação de assistência médica à chegada. A aterragem decorreu sem incidentes, mas sete tripulantes e dois passageiros foram encaminhados para o hospital para avaliação.
Entre os dias 11 e 14 de março, a aeronave ficou fora de serviço, sendo alvo de várias inspeções e ações de descontaminação. Nenhuma anomalia foi encontrada, apesar de um voo de teste ter sido realizado com técnicos a bordo para detetar possíveis fontes de odores.
O GPIAAF recorda ainda um episódio anterior a 11 de março, em que ocorreu um derrame de água no porão da mesma aeronave, relacionado com o transporte de peixe, a 11 de novembro de 2024. A limpeza feita na altura não incluiu a remoção dos estrados do porão, o que, segundo o organismo, pode ter contribuído, direta ou cumulativamente, para o evento mais recente.
O GPIAAF indica que em 2024 houve 1.249 reportes deste tipo de ocorrências na base de dados europeia, sendo um assunto que tem vindo a ser objeto de atenção pela indústria, organismos de investigação e EASA, regulador europeu.