2022 foi um ano de crescimento da prevalência do consumo de algumas substâncias aditivas entre os jovens madeirenses com 18 anos, mormente no que diz respeito às drogas ilícitas, ao álcool, ao tabaco e até à utilização da Internet para jogar jogos de apostas.
Todavia, e embora tenha somado algumas das maiores subidas destes consumos no país, no ano em referência, a Madeira foi a região “que registou um cenário menos gravoso no conjunto dos indicadores analisados” pelo Inquérito aos Jovens Participantes no Dia da Defesa Nacional acerca dos “Comportamentos Aditivos aos 18 anos”, o segundo a ser realizado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) após o eclodir da pandemia covid-19.
Mas vamos por partes.
Consumos aumentaram em 2022
De acordo com este inquérito do SICAD, de 2021 para 2022, os principais aumentos do consumo de drogas ilícitas em todo o país aconteceram na Região Autónoma da Madeira.
Relativamente a estes narcóticos, o arquipélago regional liderou as majorações denotadas a nível da experimentação entre os mais novos (+3,4%, juntamente com o Norte), bem como no consumo nos últimos 12 meses (+1,9%) e no consumo diário (+4,1%) destas substâncias por parte desta faixa etária, sendo este aumento “bem acima do incremento verificado no conjunto do país”, conforme ressalvou o SICAD.
Já no que à evolução dos comportamentos nocivos associados à ingestão de bebidas alcoólicas diz respeito, “a Madeira destaca-se como a região onde o panorama mais se agravou, com subidas de 8% no que concerne tanto ao consumo binge como à embriaguez severa e 7% no que se refere à ingestão de bebidas alcoólicas numa base diária ou quase diária”. Por conseguinte, o consumo desta substância nos últimos 30 dias entre os jovens madeirenses que atingiram a maioridade aumentou 4% relativamente ao ano transato.
No entanto, a experimentação de álcool, de um ano para o outro, tornou-se menos prevalente entre os jovens inquiridos da RAM (-2,4%), tal como em Lisboa (-3%), descida que se reafirma no consumo feito nos últimos 12 meses (-4%).
Por seu turno, face ao estudo anterior, os adolescentes madeirenses deram conta de um maior agravamento do recurso ao tabaco, o qual subiu 2,3% em termos do consumo diário, seguindo num sentido diferente das restantes regiões portuguesas, que conquistaram decréscimos.
Por último, entre 2021 e 2022, o SICAD aponta que a utilização da Internet para jogar jogos de apostas tornou-se mais prevalente na Madeira (+2,4%, a par dos Açores), “em contraciclo com a tendência registada no conjunto do país”, distanciando-se, portanto, da médica nacional.
Posto isto, este estudo conclui que, de uma forma geral, no ano de 2022 a Madeira inverteu a tendência de decréscimo dos valores relativos consumo da generalidade das substâncias aditivas que havia alcançado nos anos precedentes.
Jovens madeirenses experimentam menos
Certo é que, e não obstante o agravamento dos consumos de várias substâncias, em 2022, em comparação com o resto do país, a Madeira somou os níveis menos expressivos de experimentação de álcool e de tabaco entre os jovens com 18 anos inquiridos, com 82,3% no caso das bebidas alcoólicas e 47,4% relativamente ao tabaco, uma experimentação que assumiu como mais gravosa no Alentejo (91,1%; 60,2%, respetivamente).
Quanto aos tranquilizantes e sedativos sem receita médica, a Madeira é a terceira região com a maior prevalência deste consumo ao longo da vida, ainda que os resultados sejam pouco expressivos (7,9%). Contudo, é apenas superada pelos Açores, onde a sua utilização no decurso da vida chega aos 10,9%, e pelo Alentejo (8,8%).
Quando às drogas ilícitas, a experimentação feita pelos adolescentes nascidos na RAM coloca o arquipélago no último lugar entre as regiões do país (27,5%), num ‘ranking’ liderado pelo Algarve “que regista as maiores prevalências de experimentação de substâncias ilícitas (no seu conjunto) e também de canábis, a droga ilícita de longe mais consumida ao longo da vida em todas as regiões do país”.
No caso da prevalência de consumo de substâncias ilícitas, a Madeira surge abaixo do total nacional na utilização de canábis (25%) entre esta faixa etária. Apenas os jovens açorianos experimentaram menos (24,9%). Todavia, ainda que com número pouco expressivos, nos restantes narcóticos, a RAM impõe-se nas primeiras posições: no caso das anfetaminas/metanfetaminas e das NSP surge no 3.º lugar de maior experimentação (7,4% e 5,4%) e na 2.ª posição quando considerado os alucinógenos (5,2%), a cocaína (5,3%) e a heroína (3,2%), sendo apenas ultrapassada pelo arquipélago açoriano.
De assinalar que o consumo nos últimos 12 meses de bebidas alcoólicas, tabaco e de drogas ilícitas dos jovens madeirenses foi o mais baixo no território nacional (78%; 40% e 21,3%).
O policonsumo das substâncias acima referidas entre os jovens com 18 anos da Madeira nos últimos 12 meses é igualmente o menos prevalecente do país (16%).
Consumo de drogas ilícitas é duas vezes superior nas Regiões Autónomas
Atentando concretamente no consumo nos últimos 30 dias e no consumo diário, a Madeira reitera-se como a segunda região onde os adolescentes com 18 anos recorreram menos ao álcool nestes períodos temporais (59%; 7%), um valor abaixo do total nacional, sendo apenas superada pelos Açores (55%; 6%), ao passo que volta a ser o Alentejo a zona do país onde tal recurso é mais preocupante (74%; 13,3%).
O mesmo confirma-se no caso do tabaco, com 31% dos madeirenses inquiridos a revelarem terem fumado no último mês, sendo igualmente a segunda menor prevalência em Portugal, e nas drogas ilícitas, com a RAM a registar os valores menos expressivos (13%).
Em sentido contrário vai, contudo, o consumo atual de substâncias ilícitas que não a canábis. Neste indicador a Madeira surge à cabeça, juntamente com o Alentejo no caso das anfetaminas/metanfetaminas (RAM: 3,4%), e ao lado dos Açores, nas restantes, tais como a heroína (2%), cocaína (3,2%), NSP (2,3%) e alucinogénios (2,8%). No entanto, o SICAD faz uma ressalva: “Embora estejam em causa valores pouco expressivos, a discrepância regional é proporcionalmente muito acentuada no caso de NSP, alucinogénios, cocaína e heroína e outros opiáceos, sendo o consumo atual nas Regiões Autónomas cerca de duas superior ao total nacional”.
Já se considerado o consumo diário, a Pérola do Atlântico é o ponto do país onde os jovens chegados à maioridade consomem menos tabaco no dia-a-dia (12%). Por sua vez, a canábis é uma substância que também fez pouco parte do dia-a-dia dos madeirenses inquiridos (2,7%), a menor percentagem em todo o país.
Madeira lidera uso da Internet para jogar e fazer apostas
No que respeita à utilização da Internet, este estudo do SICAD releva que a prática de fazer apostas online é mais significativa nas Regiões Autónomas dos Açores (22,3%) e da Madeira (23%). Quanto ao recurso da Internet para jogar jogos, diga-se que foi no arquipélago madeirense que se uma maior utilização foi declarada (64%).
Na Madeira, a generalidade dos inquiridos começaram a utilizar internet entre os 10 e os 14 anos (52,4%; número inferior à generalidade das outras regiões do país) ou até mesmo antes do seu 10.º aniversário (40,9% - valor que supera a média nacional, sendo a segunda região em que mais crianças com menos de 10 anos iniciam mais precocemente esta navegação).
Todavia, foi na RAM que se encontrou a maior percentagem de entrevistados com 18 anos que declararam nunca ter feito pesquisas online (8%). Aponte-se ainda que, de acordo com este estudo, os adolescentes madeirenses são dos que menos despendem 6 ou mais horas por dia durante a semana nas redes sociais (25%) em todo o país, mas são os que mais gastam tempo a jogar na internet (16%).
Álcool causa mais problemas
Inquiridos sobre se já sentiram problemas associados ao consumo de álcool, apenas 28,3% dos jovens madeirenses responderam afirmativamente, ficando abaixo da média nacional (30,6%), tal como se regista no caso do uso da Internet (26,6% na Madeira; 31,2% a nível nacional), que caiu 4% em relação ao verificado no ano anterior.
Todavia, face ao apurado em 2021, tais problemas com a ingestão de bebidas alcoólicas cresceram 3,3%, o segundo maior crescimento em todo o país.
O mesmo não se verifica com as drogas ilícitas, sendo a Madeira a quarta região do país onde mais entrevistados admitiram sofrer alguma problema com o seu consumo (15,3%; 14% de média nacional). Comparativamente ao ano anterior, tal representou um aumento de 2,7% das revelações feitas.
SICAD alerta para monitorização
Perante as conclusões alcançadas, o SICAD enunciou ser necessário continuar a monitorizar algumas tendências entre os jovens de 18 anos. No respeitante à Madeira, esta entidade destacou nomeadamente a importância de atentar no aumento do consumo de tabaco e de drogas ilícitas, bem como dos jogos de apostas online em ambas as Regiões Autónomas e da experiência de problemas relacionados com estas duas substâncias.
UCAD pede responsabilidade a empresários e pais
Não desvalorizando a importância e a gravidade destas estatísticas, ao JM, Nelson Carvalho, diretor da Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências (UCAD), apontou que vários fatores podem justificar o aumento verificado nestes consumos, em especial do álcool. Um deles, realça, prende-se com o facto deste inquérito ter sido conduzido após o verão, período durante o qual “há muito mais consumos, arraiais e oferta”, juntando-se ainda o facto de 2022 ter sido o ano de retoma da normalidade após o covid-19.
Ainda assim, o responsável garantiu que a UCAD dará continuidade ao seu trabalho de prevenção junto dos mais novos e dos seus pais, para que sejam mais “responsáveis com a educação e controlo dos filhos”, mas também da sociedade em geral, em particular dos empresários.
“Vamos continuar a alertar e a sensibilizar para terminarem com happy hours, promoções e com o preço baixíssimo do álcool. É inadmissível que uma cerveja ou um shot sejam mais baratos do que uma água ou um sumo”, exemplificou, considerando que tal é uma “promoção gratuita e abusiva do álcool”. A este propósito, pede ainda a redução do horário de diversão noturna.
“Temos uma noite muito longa e muito tardia e sabemos que por cada hora que ficam os bares abertos na noite a probabilidade de haver desacatos, violência, acidentes rodoviários e outras situações de risco aumenta”, vincou.
Mais frisa a importância de aplicar coimas aos progenitores, face a comportamentos de risco dos filhos.