Especialistas dos setores da mobilidade e dos transportes apelaram a uma ação política firme para mitigar os impactos negativos dos navios de cruzeiro e das companhias aéreas sobre a qualidade do ar e a saúde pública.
Durante o quarto e último painel do Encontro de Associações Insulares Atlânticas de Engenheiros, que decorreu no Museu de Eletricidade “Casa da Luz”, no Funchal, Jorge Antunes, CEO da Tecnoveritas, destacou a necessidade urgente de descarbonizar os transportes marítimos e aeronáuticos para proteger a saúde das populações locais e promover uma economia sustentável. “Os grandes navios e aeronaves contribuem significativamente para a emissão de poluentes, incluindo partículas cancerígenas, prejudicando as zonas costeiras de Ponta Delgada e Funchal”, alertou.
Jorge Antunes sublinhou que a solução passa pela instalação de infraestruturas nos portos para fornecer energia limpa aos navios atracados, reduzindo as emissões locais. Além disso, defendeu regulamentações mais rigorosas e a adoção de combustíveis alternativos, como o hidrogénio e fontes renováveis. “Estudos comprovam que as emissões marítimas acarretam custos crescentes em tratamentos para doenças respiratórias, o que exige uma abordagem conjunta entre portos e operadores marítimos”, explicou. Concluiu apelando a políticas europeias que incentivem tecnologias limpas e combustíveis alternativos, destacando a responsabilidade de todos os intervenientes na transição energética.
Pedro Ponte, diretor de Equipamento, Infraestruturas e Ambiente na Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, reforçou a necessidade de inovação para enfrentar os desafios da descarbonização. “A descarbonização é uma prioridade, mas exige soluções concretas e inovação tecnológica para alcançarmos os objetivos traçados”, afirmou. Referindo-se aos compromissos internacionais como o Acordo de Paris e a COP28, sublinhou que “triplicar a capacidade de energias renováveis e duplicar a eficiência energética” são metas ambiciosas, mas essenciais.
Pedro Ponte destacou também a importância da cooperação entre regiões ultraperiféricas, apontando iniciativas como a eletrificação de navios e a ligação elétrica entre ilhas, além de sublinhar que “os transportes marítimos e aéreos são cruciais para a integração económica e social das regiões insulares”. Enfatizou o uso de combustíveis sintéticos como uma solução promissora: “O carbono pode passar de problema a ativo, servindo como matéria-prima para combustíveis sustentáveis tanto na aviação como no transporte marítimo”.
Luis Sepúlveda, Decano da Demarcação de Santa Cruz de Tenerife, apresentou projetos pioneiros, como um teleférico 100% sustentável, alimentado exclusivamente por energia solar. Este projeto, único no mundo, utiliza painéis solares, sistemas de recuperação de energia e baterias de alta durabilidade, respeitando o ambiente e minimizando o impacto visual em áreas protegidas. “Este projeto demonstra que é possível adotar energias renováveis em contextos desafiantes, como regiões montanhosas e remotas”, afirmou Sepúlveda.
Por fim, José Monteiro, da Repsol Portugal, apresentou os biocombustíveis como uma solução de curto prazo para descarbonizar o setor marítimo. “Estes combustíveis reduzem as emissões de CO2 entre 80% e 90% e podem ser utilizados nos motores a diesel existentes”, explicou, destacando os resultados positivos já obtidos na frota marítima do Porto de Lisboa.
O encontro reforçou a necessidade de ações concretas, cooperação internacional e inovação tecnológica para garantir um futuro sustentável para as regiões insulares e além.