José Luís Rodrigues mostra-se desiludido com antigo sacerdote e admite que gostava de ver outros nomes na barra do tribunal. E critica o “maldito segredo” dentro da Igreja.
O padre José Luís Rodrigues acaba de publicar uma extensa e profunda reflexão sobre o caso do ex-padre Anastácio Alves, que foi ontem condenado a uma pena de seis anos e meio de prisão por abuso sexual de menores na Madeira.
Rodrigues, conhecido pelas suas posições públicas contundentes, avisa que o texto publicado hoje “deve ser dos mais pensados e tristes” que já escreveu.
Antes das críticas, deixa palavras de solidariedade para com “a pessoa violentada e abusada sexualmente por Anastácio Alves”.
Lembra depois que Anastácio era padre, que significa pai. “E de um pai um filho espera proteção e nunca abusos de ordem nenhuma”.
Manifestamente desiludido com antigo colega, José Luís Rodrigues critica também de forma dura a Igreja Católica na Madeira. Diz mesmo que Anastácio, “numa primeira fase, foi levianamente protegido pelos responsáveis da Igreja Católica na Madeira”. Acrescenta que “limitaram-se a esconder e a mudar de um lado para outro a figura que o tribunal agora condenou e sentenciou que deve ir para a cadeia”.
“Eu gostava de ver também na barra do tribunal esses tais que nesta hora devem estar a rezar terços e salmos pelas vítimas, enquanto há responsabilidades que deviam ser assumidas por eles por terem praticado o método de sempre: mudar de sítio para proteger o criminoso, esconder para salvar a instituição sem ter em conta nenhuma atenção ao sofrimento das vítimas.”, escreve ainda o pároco de São Roque e São José.
“Sempre o maldito segredo”, atira.
“Hoje olho para o Anastácio Alves e vejo uma figura estranha. Vejo um condenado por abuso sexual de um menor”.
José Luís Rodrigues recua no tempo para recordar as capacidades que diz ter encontrado em Anastácio Alves. Era um brilhante aluno, tinha uma inteligência sagaz e dedicava-se de forma eficaz aos idosos e aos pobres, recorda.
Entre várias outras referências, Rodrigues mostra-se preocupado com o efeito que casos desta natureza provocam na Igreja Católica, nomeadamente nas vocações. E volta a criticar o silêncio e a atitude passiva da Igreja na Madeira.