O primeiro-ministro cessante, António Costa, enalteceu hoje a carreira de Herman José, considerando-o um “humorista incondicionalmente comprometido com a liberdade” e cujos programas permitiram que a democracia saísse “da televisão a preto e branco” e ganhasse cor.
Na cerimónia de atribuição da Medalha de Mérito Cultural - que decorreu esta tarde nos jardins da residência oficial do primeiro-ministro precisamente no dia em que Herman José faz 70 anos e que terminou com um bolo e os parabéns - António Costa considerou que “não por acaso” se celebra os 50 anos de carreira do humorista na mesma altura em que também a democracia portuguesa comemora o mesmo meio século de vida.
“O Governo português presta-lhe esta pública homenagem, concedendo-lhe a Medalha de Mérito Cultural, em reconhecimento do inestimável trabalho de uma vida dedicada à televisão e às artes do espetáculo, à rádio e, em especial, pelo seu trabalho pioneiro como humorista incondicionalmente comprometido com a liberdade”, enalteceu António Costa.
De acordo com o primeiro-ministro, Herman José “iniciou a sua carreira de ator precisamente poucos meses depois do 25 de abril de 1974” num espetáculo de revista chamado “Uma no cravo, outra na ditadura”.
Costa recordou os programas da sua autoria como o Tal Canal e Hermanias, que representaram uma “mudança histórica” e “revolucionária no tipo de humor” que se fazia em Portugal, considerando que Herman inventou “verdadeiramente o humor moderno em Portugal”.
“Com Herman José a nossa democracia saiu da televisão a preto e branco, ganhou cor, riu, riu-se e fez-nos rir. Com Herman, crescemos em democracia e a democracia cresceu na sua liberdade”, enfatizou.
Segundo o primeiro-ministro, “a absoluta liberdade” que Herman José levava ao horário nobre na televisão do Estado, quando ainda não havia televisões privadas, era “um verdadeiro teste da maturidade para uma democracia ainda jovem”.
“O humor é vital para qualquer sociedade democrática porque põe à prova a liberdade de expressão nessa sociedade. Com Herman José aprendemos que, mesmo em democracia, fazer humor é por vezes, um ato de coragem”, recordou, referindo-se ao programa Humor de Perdição que foi “abruptamente suspenso” pela RTP por causa de uma rubrica com entrevistas históricas.
Costa lembrou ainda que, anos mais tarde, um sketch sobre a Última Ceia “desencadeou um abaixo-assinado de protesto com 250 mil assinaturas que só não teve consequências porque desta vez a direção da RTP resistiu”.
“A sucessão de programas televisivos de que é autor desde a década de 1980, até aos nossos dias, quase sem interrupção, faz de Herman José um caso singular de longevidade televisiva”, enalteceu.
Neste momento do discurso, e arrancando risos da pequena plateia que assistiu ao momento intimista, o primeiro-ministro ainda em funções recordou personagens de Herman José cujas “frases e expressões, repetidas de episódio para episódio, entraram na fala do dia-a-dia dos portugueses”, citando alguma delas como “Não havia necessidade”, da personagem Diácono Remédios, ou “Este homem não é do Norte” e ainda “Onde é que estavas no 25 de Abril?”.