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Herman feliz com medalha de Governo “hiper demissionário” avisa que “liberdade não é oferecida”

Data de publicação
19 Março 2024
18:46

Herman José agradeceu hoje com humor a Medalha de Mérito Cultural recebida de um Governo “hiper demissionário”, considerando que “a liberdade não é oferecida” e que a situação nacional resulta apenas de “acontecimentos naturais de uma democracia funcional”.

No dia em que faz 70 anos, o humorista Herman José recebeu das mãos do primeiro-ministro cessante, António Costa, a Medalha de Mérito Cultural, numa cerimónia restrita nos jardins da residência oficial, em Lisboa, e que foi marcada por muitos momentos de humor, gargalhadas e até houve direito a um bolo e aos parabéns cantados por todos os presentes.

“No mundo no estado em que está, depois de se saber as noticias que vêm da Rússia, da Ucrânia, de Israel, da Faixa de Gaza, eu acho que os nossos problemas não são problemas, são acontecimentos naturais de uma democracia funcional”, respondeu aos jornalistas no final, e já com a medalha ao peito, quando questionado sobre a situação política nacional.

Herman José desdramatizou e considerou que “as eleições funcionaram, o país está jactante, as novas gerações são bonitas e fortes”, assumindo-se como alguém que vê o “copo sempre meio cheio”.

Recordando momentos de “grande sofrimento” na sua carreira como a suspensão do programa Humor de Perdição ou abaixo-assinados contra rubricas suas, o também ator avisou que “a liberdade não é oferecida grátis e “dá sempre trabalho e tem sempre de ser regada como um bonsai e conquistada com inteligência”.

“Quanto pior é a situação mais importante é o humor”, admitiu, considerando que o “humor funciona também como barómetro da saúde democrática”.

Lamentando o mau sintoma da cultura ter estado arredada da última campanha eleitoral, Herman José mostrou-se otimista graças a uma produção cultural “tão viva” em Portugal nos últimos tempos.

“Mais tarde ou mais cedo as coisas vão ficar mais civilizadas no sentido em que eu acho que o Estado tinha a obrigação de derramar mais dinheiro e mais interesse para manter vivas certas artes que sem subsídio não subsistem”, apelou.

Durante o discurso, o humorista disse a António Costa que estava com medo que a fita com a medalha não entrasse porque é “muito cabeçudo”.

“Sou neste momento a maior cabeça do teatro português depois da morte do ator Costa Ferreira, que era o único que tinha uma cabeça de igual diâmetro: 63 de diâmetro”, gracejou, ouvindo-se as gargalhadas inconfundíveis da atriz Maria Rueff.

Brincando ao dizer que nasceu com uma “humoristite aguda, que é a tendência natural para o disparate, sempre, em todas as ocasiões”, Herman recordou a altura em que o programa Humor de Perdição foi cancelado e, quando “estava desolado”, recebeu “um telefonema de um homem que era então Presidente da República”, referindo-se a Mário Soares.

Herman recriou essa conversa e imitou a voz de Mário Soares, tendo feito o mesmo em relação a uma outra conversa com o mesmo Mário Soares a dizer-lhe que ia ser condecorado em 1992.

Segundo o humorista, a felicidade que sentiu com esta medalha que hoje recebeu das mãos de Costa teve a mesma intensidade da que sentiu em 1992.

“Sobretudo potenciado pelo facto de ser um Governo que está híper demissionário. São pessoas que daqui a uns dias já não mandam nada, nada. Têm de devolver tudo, as mobílias, as coisas. Vão para casa”, ironizou.

A linha do humor seguiu com Herman a imaginar que António Costa lhe podia ligar daqui a uns meses a pedir-lhe ajuda para “descobrir o novo sítio para o aeroporto”, o que mereceu os risos do ainda primeiro-ministro.

“Ou, pior ainda, ligar-me o senhor ministro das Finanças, Fernando Medina, a dizer: ‘Herman José, está bom? Tenho aqui um problema, tenho aqui quatro mil milhões a mais e não sei como é que hei de gastar isto e depois lá tínhamos de ir de avião para Arábia Saudita ter com o Cristiano Ronaldo para pedir a Georgina emprestada durante 15 dias”, brincou.

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