O presidente do Nós, Cidadãos! admite não ter expectativa de eleger um deputado nas eleições de 10 de março e aponta como prioridades do partido dar mais representatividade aos eleitores no estrangeiro e o investimento na defesa.
Em entrevista à agência Lusa, no âmbito das eleições legislativas antecipadas de março, Joaquim Afonso, líder do partido que concorre apenas nos círculos eleitorais de Braga, Porto, Madeira, Europa e Fora da Europa, disse que a “prioridade das prioridades” é “acabar com a completa injustiça” de os emigrantes terem menos representatividade nas eleições do que os cidadãos que vivem em território nacional.
“Nós temos eleitores inscritos pelos círculos da Europa e de Fora da Europa, cerca de 1,5 milhões de eleitores e que elegem no total quatro deputados, enquanto, por exemplo, o círculo do Porto, que tem o mesmo número de eleitores, cerca de 1,5 milhões, elege 40”, apontou Joaquim Afonso, considerando que este sistema diferencia “portugueses de primeira” e “de segunda”.
Esta é a razão pela qual o presidente do partido admitiu não ter a expectativa de conseguir eleger um deputado. “Não, não acredito” que é desta, afirmou.
Lembrando que, em 2015, o partido esteve perto de eleger um deputado pelo círculo de Fora da Europa, com um candidato em Macau, o líder do Nós, Cidadãos! disse que ponderam mesmo apresentar uma queixa ao Tribunal Constitucional contra o que consideram ser uma desigualdade de direitos dos cidadãos no processo eleitoral.
Em segundo lugar no topo das prioridades está o investimento na defesa, um tema sobre o qual, segundo Joaquim Afonso, “ninguém se atreve a falar” na campanha, mas que o partido considera “fundamental nos tempos que correm”.
Para o militar que pertenceu à Marinha Portuguesa, agora na reserva, um país que “não tem estratégia nem política de defesa” está vulnerável às estratégias dos outros, e disse estar preocupado com o crescimento da Rússia e da China, liderados por “dois malucos”.
Questionado sobre os problemas na saúde, habitação e educação, Joaquim Afonso considerou que o debate sobre estes temas que tem sido feito pelos principais partidos nos últimos dias “é treta”.
Para o Nós, Cidadãos! as questões na saúde resumem-se a um problema de gestão e ao grande número de administradores que “não percebem nada de saúde” e “todos eles com um chapéu de um partido qualquer”.
Já na educação, o partido concorda com a reposição do tempo de serviço aos professores, “mas também a todos os outros funcionários e agentes do Estado que foram igualmente envolvidos na mesma vaga de limitações” impostas na altura da ‘troika’, como os militares, polícias e funcionários da justiça.
O líder do Nós, Cidadãos! considerou também legítima a reivindicação dos profissionais da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR) pela atribuição de um subsídio de risco, tal como foi atribuído à Polícia Judiciária (PJ), e disse não acreditar que possa haver um boicote às eleições por parte daqueles agentes da autoridade, cuja atividade é pautada pelo “interesse patriótico”.
No que toca à habitação, o partido defende o crédito com juros bonificados pelo Estado como forma de apoiar os jovens na compra de casa e também a criação de medidas para potenciar as cooperativas de habitação.
“Uma cooperativa de habitação consegue, transversalmente, abordar uma questão de construção a preços equilibrados e sustentáveis, que não se coaduna com a apologia geral do mercado que é perfeitamente especulativa e só funciona para os ricos”, realçou Joaquim Afonso.
Assumindo-se como um partido que defende “políticas de bem comum em rutura com o neoliberalismo e o socialismo”, o presidente do partido lamentou o que considera ser a perda de soberania para as entidades decisoras da União Europeia. “Não se justifica estarmos a falar de ‘ismos’, já não há ‘ismos’, quem manda é Bruxelas”, apontou.
Questionado ainda sobre onde se sentaria na Assembleia da República um deputado eleito pelo Nós, Cidadãos!, Joaquim Afonso respondeu que seria “perfeitamente no centro” e rejeitou a possibilidade de estabelecer pontes com qualquer dos outros atuais partidos com assento parlamentar, exceto o Livre, cujo líder, Rui Tavares, lhe parece ser “uma pessoa séria e com bons princípios”.
Quanto aos restantes partidos, o ex-militar acusou-os de representarem uma “pandemia de politiqueiros de polichinelo que andam há 50 anos a querer ser ricos à conta do erário público”.