Mais de 3.600 pessoas morreram no Haiti durante o primeiro semestre do ano em incidentes violentos, de acordo com um relatório divulgado hoje pela ONU.
Os níveis de insegurança no Haiti continuam a ser o resultado de uma “criminalidade sem sentido”, considerou o alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Turk, no documento.
A ONU tem conhecimento de 3.661 mortes entre janeiro e junho.
Pelo menos 860 pessoas foram mortas e 393 ficaram feridas em operações policiais em Port-au-Prince, o que, para a ONU, mostra que as forças de segurança também são responsáveis por excessos.
O número de vítimas de violência de género aumentou de 250 nos primeiros dois meses do ano para 1.543 em março e, segundo a ONU, 75% dos crimes registados foram casos de violência sexual.
“Os bandos continuam a usar a violência sexual para adotar castigos, espalhar o medo e subjugar a população”, de acordo com a ONU, citada pela agência espanhola Europa Press.
Turk admitiu que foram dados alguns “passos positivos” nos últimos meses, como a criação de um Conselho Presidencial e de um governo de transição, bem como a chegada da primeira missão internacional liderada pelo Quénia.
No entanto, disse que continuam a existir desafios, como o fornecimento de “equipamento e pessoal adequados e suficientes” à missão liderada pelo Quénia.
Turk apelou igualmente ao empenho das autoridades locais na reforma das instituições e na luta contra a corrupção, para apoiar o Estado de direito e responsabilizar os autores dos abusos documentados no relatório.
Apelou ainda à comunidade internacional para que não esqueça o Haiti e continue a exercer pressão política, aplicando sanções ou embargos de armas para combater a violência armada no país das Caraíbas.
“Estamos a fazer soar o alarme. As armas ilícitas continuam a chegar ao Haiti” e “os apelos humanitários sofrem de um subfinanciamento crónico”, afirmou a porta-voz do Alto Comissariado, Ravina Shamdasani, numa conferência de imprensa.
“As armas e as munições continuam a entrar no país, principalmente através dos Estados Unidos, mas também através da República Dominicana e da Jamaica”, insistiu Shamdasani, citada pela agência francesa AFP.
O Haiti sofre há muito tempo com a violência dos bandos criminosos, mas nos últimos meses esta redobrou e agravou a crise humanitária, com quase 600.000 pessoas deslocadas no país, segundo a ONU.
Em outubro de 2023, o Conselho de Segurança da ONU deu luz verde ao envio de uma Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MMAS) liderada pelo Quénia para ajudar a polícia haitiana.
O Presidente do Quénia, William Ruto, assegurou na quinta-feira, em Nova Iorque, que o seu país irá concluir o destacamento de contingentes MMAS adicionais até janeiro de 2025, elevando o total para 2.500 polícias.
O Quénia começou a enviar os primeiros contingentes no verão, contando agora com cerca de 400 polícias, a que se juntam mais 20 homens da Jamaica e do Belize.
“O Quénia e outros países das Caraíbas e de África estão prontos para se mobilizarem, mas são prejudicados pela falta de equipamento, logística e fundos”, lamentou o Presidente Ruto.
O presidente do conselho de transição do Haiti, Edgard Leblanc Fils, apelou na quinta-feira à comunidade internacional para que inicie uma reflexão sobre a transformação da MMAS numa missão de manutenção da paz da ONU.
“É uma questão que diz respeito ao Conselho de Segurança”, disse Shamdasani.
Mas “é crucial que qualquer força destacada disponha de recursos e financiamento adequados”, acrescentou a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.