O PSD saudou hoje que o Governo tenha escolhido a corrupção como prioridade política, mas ouviu alertas das bancadas do Chega sobre agricultura e da IL sobre o modelo de sociedade que quer distinto do executivo do PS.
No período das intervenções de fundo, a vice-presidente da bancada do PSD Andreia Neto considerou que “o sentimento de elevada desconfiança dos portugueses e dos organismos internacionais afetam a qualidade da democracia e a eficiência da gestão pública”, saudando que o Governo vá promover um diálogo entre todos os partidos para construir uma agenda de combate à corrupção.
“É urgente devolver a confiança dos cidadãos nas instituições e há propostas dos vários grupos parlamentares que merecem ser estudadas, ninguém tem o monopólio das melhores soluções”, disse.
O PSD, adiantou, avançará com medidas que fazem parte do programa eleitoral do Governo, como a criminalização do enriquecimento ilícito, ou o reforço da autonomia, especialização e coordenação das entidades competentes nesta área.
O deputado e dirigente do PS João Torres manifestou a disponibilidade do partido para “revisitar o ordenamento jurídico para um combate mais efetivo à corrupção”, mas avisou que “jamais” a sua bancada colaborará com “cedências à demagogia, populismos e até potenciais inconstitucionalidades”.
À direita, a bancada do Chega escolheu a agricultura como tema de fundo da sua intervenção, com o deputado Pedro Frazão a dizer “representar a voz dos agricultores, que se sentem neste momento muito enganados pela AD”, coligação pré-eleitoral que integrou PSD, CDS-PP e PPM.
“Eduardo Oliveira e Sousa representou a AD em quase todos os debates sobre agricultura e havia uma expectativa que fosse a ministro, depois apareceu outro ministro que é engenheiro informático e está em Bruxelas há quase 25 anos”, disse, referindo-se ao ex-eurodeputado José Manuel Fernandes, a quem acusou de ter votado a favor de medidas “que estiveram na origem da revolta dos agricultores”.
“Não está livre que isso volte a acontecer. Os agricultores estão atentos e querem medidas muito concretas e rapidamente”, avisou, numa intervenção que não mereceu resposta do PSD e recebeu da bancada do PS a classificação de “negacionista”.
Pela IL, Carlos Guimarães Pinto também deixou avisos ao Governo PSD/CDS-PP, com que chegou a admitir um acordo pós-eleitoral que acabou por não se concretizar.
“Nada vos distinguirá do PS se mantiverem o mesmo modelo de sociedade. Se quiserem ser uma verdadeira alternativa ao PS, cá estaremos disponíveis para colaboração, se quiserem seguir o mesmo modelo de sociedade que nos trouxe até aqui, cá estaremos para ser oposição”, avisou.
À direita, só a bancada do CDS-PP, que apoia o Governo, retomou nas intervenções de fundo o tema da governabilidade, com o deputado João Almeida a questionar se “há mais deputados a favor ou contra a descida do IRS”, ou de outras medidas propostas pela AD como a valorização das carreiras das forças de segurança ou o aumento do valor de referência do Complemento Solidário para Idosos.
“Há neste parlamento maioria para aprovar não só as prioridades do Governo, mas também as maiores ambições dos portugueses”, defendeu, avisando que tal só não acontecerá se algum partido “achar que pode ter mais vantagem em ir agora ou daqui a seis meses a votos”.
João Almeida salientou que, pela primeira vez neste século, há um Governo não socialista no poder “em condições de normalidade orçamental”.
“Ninguém nos perdoará se, tendo maiorias suficientes para aprovar as medidas e condições orçamentais para as suportar, não o conseguirmos por razões de tática político-partidária”, reforçou.