O sindicato da guarda prisional lamentou hoje que não exista um “plano de segurança e de reação” para as prisões portuguesas que evite ou dificulte situações como a da fuga de cinco reclusos da cadeia de Vale de Judeus.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), Frederico Morais, criticou ainda que, perante a falta desse plano de segurança e reação, os serviços prisionais tenham optado hoje por realizar um “simulacro em Vale de Judeus” em que puseram quatro guardas desarmados a “correr para a morte”, porque se fosse um cenário real como aquele que aconteceu no sábado passado os guardas teriam sido certamente baleados e mortos pelos fugitivos.
“Se aqueles quatro guardas prisionais tivessem reagido no sábado (como fizeram no simulacro) estariam mortos”, enfatizou o dirigente do SNCGP.
Perante a falta de um plano de segurança e reação nas cadeias, os sucessivos alertas que foram feitos pelos sindicatos da guarda sobre a falta de segurança nas prisões e o agora ocorrido em Vale de Judeus (Alcoentre, Azambuja), Frederico Morais considera que o diretor-geral dos Serviços Prisionais “deixou de ter condições para assegurar a segurança” do sistema prisional e devia “deixar o cargo”.
O presidente do SNCGP congratulou-se que a ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, tenha convocado uma conferência de imprensa com os órgãos de comunicação social na terça-feira, na sequência dos factos ocorridos no Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, lamentando, no entanto, que não o tenha feito mais cedo, pois “já devia ter aparecido”.
Por seu lado, a Associação Sindical de Chefias do Corpo da Guarda Prisional (ASCCGP) disse hoje temer que o inquérito aberto sobre a fuga dos cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus desvalorize a situação ou atire as culpas para os guardas.
“O inquérito vai tentar acomodar e normalizar a fuga. O sistema vai fechar-se sobre si próprio, desvalorizar a situação ou atirar para cima de um guarda prisional ou de um chefe. Têm de assumir”, afirmou hoje o presidente da ASCCGP, Hermínio Barradas, sublinhando que o problema de falta de guardas é do conhecimento da Direção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) e dos sucessivos governos.
Hermínio Barradas reiterou que “as informações foram todas reportadas” no passado e que há mais tentativas de fuga pelo país, mas que “a DGRSP normaliza tudo” e acaba por criticar os sindicatos que fizeram os alertas para os riscos de fugas.
Alertou ainda que a cadeia de Vale de Judeus está sem diretor há cerca de quatro meses, que o substituto está de baixa e que não havia chefes em Vale de Judeus naquele dia, resumindo que a “cadeia de comando ficou comprometida”.
“Agora fugiram cinco pessoas perigosíssimas de forma insólita porque o sistema permite e quem denuncia ainda é perseguido. Ainda nos chamam alarmistas. As pessoas que estão na cadeia fazem o que têm de fazer; o que tiver de acontecer, acontece e é culpa do sistema”, disse o dirigente sindical, assegurando que a guarda prisional está “de consciência tranquila”.
Condenou ainda o “desinvestimento e a estratégia implementada” nos últimos 12 anos, considerando que as sucessivas direções dos serviços prisionais têm vendido “uma ilusão securitária” aos governos.
Segundo a DGRSP, já foi aberto um processo de inquérito interno à fuga dos reclusos, a cargo do Serviço de Auditoria e Inspeção, coordenado pelo Ministério Público.
A fuga foi registada pelos sistemas de videovigilância pelas 09:56, mas só foi detetada 40 minutos depois, quando os reclusos regressavam às suas celas.
Os evadidos Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, o georgiano Shergili Farjiani, o argentimo Rodolf José Lohrmann, e o britânico Mark Cameron Roscaleer, com idades entre os 33 e os 61 anos.
Foram condenados a penas entre 7 e 25 anos de prisão, por vários crimes, incluindo o tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.