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Artigo de Opinião

23/04/2024 08:00

Não me recordo, não era vivo, de 1974. Não me lembro, nem existia, em 1974. Não tenho memória, não refletia, em 1974. 1974, foi há 50 anos.

50 anos de lutas, 50 anos de desgostos, 50 de conquistas, 50 anos de progresso, 50 anos de reformas, 50 anos de liberdade.

Continuamos por cá, cada vez mais fracos, cada vez mais cansados, cada vez mais desiludidos, cada vez mais murchos, os cravos.

50 anos que deveriam de cravar um lugar simbólico no afastamento do passado, 50 anos que deveriam ser um passo em direção ao futuro. 50 anos celebrados, com 50 fachos.

1974, o ano que concluiu “Watergate”.

50 anos que passaram desde a interferência das liberdades, 50 anos volvidos e começamos a retroceder. “O lugar da mulher é em casa”, dito 50 anos depois de 1974, apoiado pelo D. Sebastião da direita portuguesa.

50 anos em que o problema são as liberdades dos outros. Não é a nossa, do homem branco, heterossexual cisgénero, de preferência cristão católico, não a nossa nunca foi posta em causa, no recatado rectângulo à beira-mar plantado, logo o nosso problema é com a liberdade dos outros.

1974, o ano de “Waterloo”.

50 anos de música, 50 anos de Zeca, 50 anos de Paulo, 50 anos de Godinho, 50 anos de rádio, televisão e notícias. 50 anos depois as notícias não interessam. 50 anos passados comemoramos os “cliques”, vendemos histerismos, não as notícias, essas são compradas por grupos económicos. 50 anos em que as televisões alimentam o descontentamento, o ódio, e os fachos.

1974, o ano da descoberta do exército de Terracota.

50 anos de descobertas, de ensinos, de evolução, de reestruturação, do desenvolvimento de um país que tinha ficado parado na era das descobertas, entre guerras e imperialismos bacocos, que traziam o pior que há na humanidade, 50 anos de saudosismo.

1974, o ano da vitória da Alemanha Ocidental no mundial de futebol.

50 anos de pontapés na bola, de cartões mostrados, de golos marcados, e do ópio do povo. 50 anos em que o mais importante é a bola entrar na baliza correta, 50 anos a criar divisões que transcendem um campo, 50 anos a alimentar egos, 50 anos a fomentar vícios.

1974, o ano que se confine a mês.

Um mês que é uma memória distante, um mês que culminou com o derrube de um regime patético, viciado, restritivo, fascista, mas que de um momento para outro temos 50 defensores na casa da liberdade, livros publicados que voltam a levantar fantasmas, políticos, que quais prostitutas de Amesterdão, vendem-se para continuar no seu poleiro, abrindo portas que deveriam estar fechadas.

1974, o ano que deveria de ser todos os anos, o mês que deveria de ser todos os meses, e aquele dia, o tal dia, que devia de ser todos os dias, mas não queremos. Vendemo-nos, corrompemo-nos por “cliques”, e esquecemo-nos que a liberdade é de todos e para todos.

50 anos, 50 anos a aprender a camuflar, 50 anos que aprendemos a perder a vergonha, 50 anos que começamos a ignorar, 50 anos que terão 50 fachos, e mais uns quantos, a regredir para há 50 anos.

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