A primeira presidência de Donald Trump trouxe mudanças profundas, tanto dentro dos Estados Unidos quanto no cenário internacional. Desde a redução de impostos e a desregulamentação de setores da economia até à política do “America First”, a sua liderança foi marcada por uma postura nacionalista e polarizadora. O que podemos esperar, então, de um retorno ao poder?
No plano económico, Trump deve retomar políticas pró-negócios, com novos cortes de impostos e desregulamentações. O seu primeiro mandato trouxe crescimento económico e desemprego baixo até a pandemia, principalmente por meio da Tax Cuts and Jobs Act de 2017. Esta reforma beneficiou empresas e famílias de maior rendimento, ampliando investimentos e o consumo. No entanto, o déficit federal aumentou, assim como a desigualdade de renda, e a economia americana passou a depender ainda mais de dívidas.
Outro ponto crítico será a polarização interna. Trump inflamou divisões sociais e raciais com sua retórica direta e, em muitos casos, combativa. Isso gerou tensões e desconfiança entre diferentes grupos, comprometendo o diálogo social. Um segundo mandato pode intensificar essas divisões, alimentando a desconfiança nas instituições democráticas, uma vez que Trump já questionou o próprio sistema eleitoral americano e a sua legitimidade. Esse ambiente pode prejudicar o desenvolvimento de políticas internas e o progresso em temas como saúde pública, educação e direitos civis.
Trump é conhecido pelo endurecimento das políticas de fronteira, que incluem tentativas de construção de um muro com o México e restrições a imigrantes de países predominantemente muçulmanos. O retorno ao poder pode significar novas restrições, o que pode agravar a situação humanitária nas fronteiras. Além disso, sua postura rígida nos direitos humanos pode influenciar negativamente a proteção desses direitos globalmente, encorajando líderes autoritários ao redor do mundo.
No cenário internacional, Trump é conhecido pela postura do “America First”, que enfatiza os interesses dos EUA acima de compromissos globais. Durante o seu primeiro mandato, ele retirou os EUA de acordos importantes, como o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas e o Acordo Nuclear com o Irão. Também criticou a NATO, pressionando aliados europeus a aumentarem as suas contribuições. Essas ações, embora destinadas a reforçar o poder americano, fragilizaram alianças e deixaram espaço para que rivais como a China e a Rússia ampliassem suas influências.
É provável que Trump adote uma postura mais isolacionista, limitando o envolvimento dos EUA em questões globais, como o combate às mudanças climáticas e a cooperação económica. Um afastamento dos Estados Unidos pode motivar os aliados a buscarem novos parceiros estratégicos, fortalecendo o papel da China em regiões como América Latina e África, onde já tem forte presença económica.
A guerra na Ucrânia e o conflito de Israel são desafios delicados. Trump sempre procurou manter relações cordiais com Vladimir Putin, sugerindo que um novo mandato poderá significar um posicionamento menos favorável à Ucrânia. Isso teria efeitos complexos para a Europa, já que uma redução no apoio americano enfraqueceria a posição da NATO e a resposta ocidental ao conflito, talvez empurrando os europeus a procurarem alternativas de segurança.
No Médio Oriente, Trump tem uma posição pró-Israel, já demonstrada nos Acordos de Abraão, que normalizaram relações entre Israel e países árabes como os Emirados Árabes Unidos e Bahrein. Um novo mandato poderia trazer um alinhamento ainda mais forte com Telaviv, o que pode complicar o relacionamento com países árabes e o Irão, aumentando as tensões e diminuindo as possibilidades de paz. Sem o papel moderador dos EUA, a região pode enfrentar novos confrontos e instabilidade prolongada.
Se não fugir ao que se espera dele, a sua presidência reafirmará a sua postura nacionalista, com foco em políticas de curto prazo que beneficiem diretamente certos setores americanos. O risco é de que os EUA acabem mais afastados e menos influentes, com consequências que podem durar bem além deste seu novo mandato. Uma postura menos cooperativa nas questões ambientais e na segurança mundial pode comprometer o papel tradicional dos EUA como mediador e líder global, com consequências imprevisíveis.
Por fim, a título pessoal, Donald Trump enfrenta desafios relacionados com várias investigações criminais e processos judiciais, onde é alvo de múltiplas acusações, incluindo obstrução de justiça e fraude, desconhecendo-se o impacto que poderá ter na presidência. O povo americano optou pela certeza da incerteza. O que virá a seguir, só o tempo o dirá.