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Artigo de Opinião

Presidente do Conselho Regional da Ordem dos Advogados

5/04/2023 08:00

Esta expressão, é utilizada para, de forma menos comprometedora e até menos auto-penalizadora, substituir a mensagem de "estou atrasado", ou então para dizer que estamos em vias de resolução de alguma questão em relação à qual estamos com dificuldade em resolver ou ainda naquelas situações em que, para não dizermos que dificilmente conseguiremos atingir um objectivo, a resposta menos dolorosa, e com visão optimista, é mesmo dizer, vamos A CAMINHO (uma vezes no bom caminho, outras nem por isso).

É também nisto que reside a beleza deste fenómeno linguístico da polissemia, pois utilizamos esta simples expressão, A CAMINHO, no sentido de justificar as nossas faltas, as nossas dificuldades e até mesmo a falta de crença na obtenção de certos objectivos.

Tenho um amigo que, chegava normalmente (sim era a sua normalidade) tarde aos convívios, e quando ligávamos a questionar se estava chegando, a resposta era sempre, "Vou A CAMINHO", na verdade nós já sabíamos, quando ele dizia que ia a caminho, estava mesmo atrasado, praticamente a sair de casa.

E, lembram-se no meu texto anterior, daquele meu cliente a quem um amigo disse-lhe "se fosse comigo" resolvia de outro modo? Pois bem, encontrei-o no outro dia e perguntei-lhe se já estava resolvido, se a solução do amigo tinha resultado e eis que de repente, diz- me, ainda não doutor, mas já vai A CAMINHO.

Outro exemplo ocorreu-me quando, num destes dias, ouvindo as notícias da RFM, constatei que parte do país estava em greve, eles eram os funcionários judiciais, os maquinistas da CP, os professores, os enfermeiros, os médicos, a greve geral da função pública. Com isto resolveram os problemas? Não, mas vão A CAMINHO.

Na verdade, podemos questionar: somos o país com os melhores vencimentos? Não. Somos o país onde a aquisição da habitação é acessível para todos? Não. Onde há emprego para todos? Não. Onde a Justiça é verdadeiramente para todos e em tempo útil? Não. Então somos um país de topo mundial? Ainda não. Estas (Não) seriam as respostas coerentes e justas. Mas, se quisermos ser optimistas, diremos que ainda não somos nada daquilo, mas vamos A CAMINHO.

Também na justiça, podemos dizer que não estamos bem, mas... para os optimistas, vamos A CAMINHO.

Falo da falta de funcionários judiciais, da falta de magistrados, das elevadas custas judiciais, das péssimas condições de trabalho nalguns tribunais deste país.

Mas, temos razões para acreditar na justiça? Sinceramente acho que sim.

Façamos aqui um louvor público ao esforço e dedicação dos operadores do aparelho judiciário, aos magistrados, aos advogados e aos funcionários judiciais, pois apenas com tal espírito, de servir a justiça e o cidadão é que ainda vão mantendo a justiça, A CAMINHO.

Mas, não podemos de forma alguma aceitar que um cidadão com fracos rendimentos, veja-se impossibilitado de exercer judicialmente os seus direitos, porque, hoje, apenas os indigentes têm acesso ao apoio judiciário. Num estado de direito, o acesso à justiça, tal como à educação, aos cuidados de saúde, à habitação, tem efetivamente de constituir verdadeiros direitos e não apenas normas programáticas constitucionalmente estampadas.

Nisso, infelizmente não estamos bem, e confesso que não sei se conseguiremos algum dia sair desde desiderato, mas quero acreditar que sim, por isso, prefiro dizer que ainda não estamos num elevado patamar da justiça, mas vamos A CAMINHO.

Já agora, ainda não comecei a escrever o novo texto, nem sequer pensei nisso, mas ao senhor director do JM, digo-lhe que, já vai A CAMINHO.

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