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Artigo de Opinião

8/05/2023 03:56

Saiu disparada de casa para contar a bilhardice às vizinhas, também elas bordadeiras, igualmente convidadas para esse repasto. Feliz com o convite, mas nada espantada, pois como vêm aí eleições importantes para a região, sabe que o governo abre os cordões à bolsa para assim cativá-la a ir votar nos mesmos de sempre.

Ao fim do dia, recebe o marido à porta de casa para contar a boa nova. Só que Rafael vem triste, com os olhos postos no chão, o parco salário que aufere mensalmente mal dá para as suas despesas e ainda tem de ajudar o filho, licenciado com muito esforço dos pais, mas que não consegue o emprego na sua área de formação. Luís, o mais novo dos irmãos, muito provavelmente seguirá o mesmo caminho do irmão António e rumará a um país desconhecido à procura de uma oportunidade que aqui não consegue arranjar.

É assim o retrato de muitas famílias madeirenses, o sufoco financeiro mensal faz com que as pequenas esmolas pré-eleitorais do Governo Regional pareçam grandes dádivas. Seguem iludidos com a conversa de que com outros poderia ser bem pior, que noutros sítios é bem pior.

Só que não, não há paralelo no país no que diz respeito aos rendimentos das famílias e à precariedade. Vivemos numa terra com gente muito pobre e não se vê esforço por parte de quem nos governa desde 1976 em inverter esta situação. Muito pelo contrário, fomos ultrapassados por todas as regiões do país em muitos desses indicadores.

É, efetivamente, aqui na Região Autónoma da Madeira, que temos os trabalhadores mais mal pagos, e consequentemente com o menor poder de compra, tendo inclusive o salário médio mensal aqui na região em 2022 recuado, quando comparado com 2021. Associado aos níveis de inflação gigantescos, facilmente se percebe porque é que é aqui que existe a maior taxa de pobreza e exclusão social.

Temos um governo que afirma que baixou os impostos e que mais de 80% dos trabalhadores são abrangidos pela redução da taxa de IRS. Ora, sabemos bem que o Governo Regional baixou esse imposto apenas nos 3 escalões mais baixo, isto significa que mais de 80% dos trabalhadores ganha muito pouco. É esta a triste sina dos madeirenses.

Volta e meia, a região recebe ilustres convidados, vindos lá do distante Portugal continental. Alojam-se na estrada monumental, fazendo apenas o percurso até à baixa funchalense. Deslumbrados pela qualidade dos nossos serviços hoteleiros, pelos fartos jantares oferecidos por quem pretende cativá-los, rasgam fortes elogios ao modelo de governação regional, como se fosse normal numa democracia, estarem sempre os mesmos a governar durante 46 anos seguidos. Esquecem-se que existe mais Região para além desse eixo viário, que existem as zonas altas, os múltiplos bairros sociais e toda uma vida fora da grande cidade, onde a realidade não é assim tão cor-de-rosa como pintam. Pende bem mais para um alaranjado viciado, hábil na comunicação, apenas preocupados com os grandes grupos económicos, onde o betão é rei, onde o monopolismo legal é prática, esquecendo-se que a pobreza reina, muitas vezes escondida e envergonhada. Estamos na cauda da lancha e a culpa é de quem nos governa há décadas.

Este ano a família da Clarisse têm o poder de escolher. De escolher uma Madeira Melhor, de escolher um novo rumo focado nas pessoas e na sua efetiva qualidade de vida.

Duarte Caldeira escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

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