É aproveitando esta maré de reflexão que vos desafio a pensar na forma como agimos perante os outros.
E hoje, vou me focar, particularmente, no assunto que, ultimamente, no meu dia a dia, tem vindo à baila: as palavras. Ou melhor, a força das palavras!
Vivemos de palavras. Mas, muitas vezes, debitamos palavras e proferimos palavras, em vez de comunicarmos palavras ou mesmo engolirmos palavras. E, como todos sabem, existem situações em que o silêncio vale mais que mil palavras.
E porquê todo este discurso? Porque, efetivamente, as palavras têm um impacto gigante em todos aqueles com quem nos relacionamos. Um elogio, uma critica ou um desabafo vão interferir na forma como nós ou outro se vê a si próprio ou o mundo. Até se formos superconfiantes e afirmarmos que não importa o que o outro vai pensar, um comentário menos positivo, lá no fundo, irá sempre interferir na forma como nos sentimos.
Estamos bem dispostos e felizes - falamos bem! Estamos mal dispostos e cansados - falamos mal! Somos humildes - falamos bem! Somos arrogantes - falamos mal! Somos assertivos - falamos bem! Somos autoritários e narcisistas - falamos mal!
E isto com ou sem intenção, porque existem aquelas vezes, em que, sem nos apercebermos, as nossas palavras têm um impacto positivo ou negativo na vida das pessoas.
Expressões como… "nunca vais conseguir!" ou "vais vestido assim? ou "a tua prima é a melhor!" ou "estás sempre triste!" ou "parece que estás doente!" ou "um dia não são dias!" ou "come que já não emagreces! Ou "já sei que vais perder!" ou "és mesmo burro!" ou "nunca vais ter dinheiro!" ou "estás sempre envergonhado!" ou "não falas com as pessoas?" … entre outras, e ainda ditas de forma imperativa e agressiva, têm sim, um impacto gigante nas nossas vidas. Quantas pessoas, desistem de algo por causa de palavras, deprimem-se por causa de palavras ou isolam-se por causa de palavras. E mais não preciso de dizer!
Quero aqui expor que também fico triste, com determinadas atitudes de colegas da área da saúde. Sabemos que o sistema não está nos melhores dias, mas que culpa é que têm os utentes ou pacientes?
Lidamos com a saúde das pessoas e ter um dia mau não nos dá direito de abrirmos a boca e os olhos para falarmos com os pacientes ou utentes da forma como entendemos! Esta mania de encaixar tudo do mesmo saco, tem de deixar de acontecer! Tudo bem, que há utentes que também deveriam medir as palavras, mas quando atendemos um novo indivíduo, temos de tratá-lo sem julgamento.
A mim, tal como, se calhar, a qualquer um de nós, já aconteceu ser atendida em uma consulta e ser tratada como se fosse incompetente, sem sequer ter aberto a boca para proferir o que quer que seja. Empatia, compreensão e ouvir mais é importante para perceber quem temos à nossa frente. Uma pessoa doente, já está fragilizada. Temos o dever de escolher bem as palavras, até porque somos todos seres pensantes e temos de ser tratados como tal.
Já o serviço de urgência do hospital público, tem de usar mais do dom da comunicação. Há quem fale de mais e há quem, simplesmente, seja mudo. Uma pessoa entra, faz exames, sai e nunca soube o que se passou ou que maleita lhe deu.
Adiante… estamos quase no natal. E mais uma vez digo, que o tempo de reflexão não seja só agora. Que o natal seja o ano inteiro!
Que pensemos antes de falar, que saibamos comunicar e que não vomitemos palavras.
Que não seja só agora! Que não sejamos mudos, mas que exista mais silêncio!
Empatia precisa-se!
Carina Teixeira escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas