Numa tarde da sua estada por cá, o Santo Padre reuniu com dezenas de sacerdotes Jesuítas. Numa curta entrevista a um dos participantes foi revelado que a sessão foi preenchida com perguntas ao Papa que ele respondia. Naturalmente sob reserva, essa conversa encheu de ânimo o entrevistado. A determinada altura não resistiu em revelar que quando questionado sobre qual a alegria e a preocupação maior que Sua Santidade tinha, para que rezassem por elas, Francisco respondeu: É a mesma coisa que me alegra e simultaneamente me preocupa. E concluiu: O SÍNODO dos Bispos, com conclusão marcada para este ano!
Como provavelmente muitos saberão, o Papa, na esteira do Concílio de Vaticano II, convocou um SÍNODO sobre o tema: Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão, fazendo com que as diferentes igrejas locais, as comunidades paroquiais, os movimentos de igreja, os leigos, os consagrados e o clero refletissem e respondessem sobre questões muito concretas que têm a ver com o futuro da Igreja.
Acabado esse profundo e vasto "trabalho de casa", em Outubro, os Bispos reúnem-se em Roma para aprovar as conclusões, que serão com toda a certeza as grandes orientações para a Igreja nos próximos anos.
Francisco propositadamente fez questão de que o debate se generalizasse. O Papa obrigou ao nível das conferências episcopais que fossem feitas sínteses e conciliações em textos necessariamente desafiantes. Percebe-se a sua alegria porque nunca houve tão generalizada participação em documentos orientadores para a Igreja. A preparação do SINODO foi já um prenuncio de uma Igreja de TODOS.
Mas também consigo entender a sua preocupação. A Igreja que o Papa deseja é uma Igreja para TODOS, capaz de acolher e cuidar todos os que nela se revejam e desejem participar. Em todo o seu papado é possível reconhecer esse traço fundamental nos seus textos e nas suas palavras: em vez de julgar, acolher; em vez de descriminar, amar! E o seu receio deverá ser o reconhecimento de que não é fácil uma Igreja ser mais mãe do que mestra. Sem perder a face, abrir a porta a todos, todos, todos. Não só de todos e para todos, mas com todos!
A JMJ em Lisboa foi um sinal muito importante para a Assembleia do SÍNODO de Outubro e o Papa quis dizer isso mesmo: não tenham medo! De forma incisiva e profética lembrou no CCB o papel universal de Portugal na evangelização, na conciliação de culturas e na amizade entre os povos, como que sublinhando a necessidade de edificar pontes.
Quando tivemos ocasião de ler as criticas e os receios que alguns revelaram antes da Jornadas e ouvimos o sublinhar da crise, da descredibilização, dos pecados, dos abusos, logo me lembrei deste desafio de Igreja universal. Muitos desses comentários devem engrandecer a reflexão, porque só critica quem se preocupa ou inquieta com a Igreja. Entendo que devem também contribuir, de uma forma lateral (embora nem sempre simpática), para a esperança de um Sínodo que dê letra à voz que Francisco repetiu aos jovens: todos, todos e todos.
Fico com a ideia de que Jorge Bergoglio sente que a sua utilidade maior como Papa será o que resultar do Sínodo, o contributo que tiver dado a essa Igreja que ele sonha para todos em nome de Cristo.
Muitos testemunham o apreço que têm pela sua pessoa nas incisivas mensagens sociais que transmite. Muitos admiram a facilidade de comunicação e o afeto que nos envolve com o seu sorriso e o seu olhar. Outros ainda apreciam o seu humor e a sua alegria.
Creio, porém, que ao lado desta extraordinária missão personalizada, a sua coragem na determinação de uma Igreja de todos, para todos e com todos com tradução escrita nos documentos fundamentais que resultarem do SINODO será sem duvida o traço fundamental do seu Papado.