O Natal já passou, galopamos para 2024 com esperança de que as coisas corram melhor. A esperança permanece e isso ajuda-nos a manter a sanidade mental e a aproveitar o que de melhor a vida tem. 2023 foi um ano difícil e as palavras candidatas a caracterizarem este ano são bem elucidativas das dificuldades que temos atravessado: clima, conflitos, demissão, inflação, habitação, inteligência artificial (IA), jornada, médico, navegadoras, professor. Há várias que me despertam curiosidade.
Gostaria de me debruçar sobre “IA” e, por analogia, tecnologia e literacia digital. Na Madeira temos um governo que adora agitar a bandeira do digital e da revolução que está a desenvolver na área da Educação. Todas as crianças e jovens do 5º ao 12º anos possuem, e bem, tablets que incluem o acesso a manuais digitais e a muito mais. Contudo, literacia digital vai para além dos tablets e a sua utilização deve obrigar a muita reflexão sobre como deve a tecnologia ser abordada na escola. Os resultados do PISA disponibilizados em 2023 já fornecem dados importantes sobre a influência do tempo de ecrã na qualidade das aprendizagens. Contudo, vivemos num contexto tão intolerante e agressivo de debate político e intelectual que, se alguém se atrever a solicitar mais reflexão sobre este assunto, corre o risco de ouvir que se deve achar melhor do que os outros, devendo, de acordo com o deputado Carlos Rodrigues do PSD, “acabar no fundo do mar”. Talvez esse deputado quisesse dizer que essas pessoas que se acham melhores do que as outras deveriam estacionar a sua viatura no parque subterrâneo da Praça do Município para 1500 carros, prometido em campanha eleitoral por Pedro Calado.
Penso ainda em narrativas paradigmáticas, e não virtuais, que se vão construindo na Madeira:
- Somos uma terra rica, cheia de pobres. Somos a 2ª Região com o maior índice de pobreza de todo o Portugal, mas para o Governo Regional todos os sistemas políticos do mundo deveriam copiar o nosso modelo de desenvolvimento.
- Vivemos numa terra cheia de casas de luxo, mas quem vive cá não ganha para alugar ou adquirir habitação condigna.
- Na Assembleia Legislativa deputados da maioria laranja afirmam que a pobreza não se combate com atribuição de cheques, mas o governo da sua cor distribui cheques a bordadeiras ou agricultores e dá subsídios em épocas eleitorais a utentes das Casas do Povo.
- Vivemos numa terra defensora do conceito de autonomia, mas cujo governo está sempre de mão estendida ao governo da República, mesmo em áreas regionalizadas, ou culpando-o por tudo o que de mau aqui acontece.
Na RAM qualquer pessoa percebe que se decidir alertar para estas e outras narrativas paradigmáticas o seu destino será, com toda a certeza, o futuro parque subterrâneo, prometido por Pedro Calado, com 1500 lugares na Praça do Município, ou seja, o fundo do mar.
Penso ainda em “conflitos” e na RAM. A prática política aqui implementada faz tudo menos criar harmonia. Aposta numa governança geradora de conflitos e ameaças, dependências e subserviências, represálias e vinganças, passando constantemente a mensagem de que quem não é por mim, está contra mim. Logo, merece ir parar ao fundo do mar, isto é, deve estacionar no futuro parque subterrâneo da Praça do Município para 1500 carros, prometido em campanha eleitoral por Pedro Calado.
Defendo uma prática política em que ninguém se coloca acima dos outros, onde há respeito e harmonia e em que ninguém é ameaçado de ir para ao fundo do mar, ie, de ser obrigado a estacionar no parque subterrâneo da Praça do Município para 1500 carros, prometido em campanha eleitoral por Pedro Calado. Feliz 2024!