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Artigo de Opinião

GATEIRA PARA A DIÁSPORA

7/06/2022 08:01

Os falantes fazem a língua e são também autores do Estado-de-Direito, caso contrário nenhum dos três sobreviveria. Contudo, para haver falantes avisados é necessário haver leitores-falantes. Javier Cercas, ao evocar o poder da leitura dando como exemplos Alonso Quijano (o verdadeiro protagonista de Don Quijote) e Emma Bovary, dizia que a literatura é feita de palavras em rebelião sendo por isso um perigo para o poder instituído.

Já se sabia que a soberania não pode ser considerada em termos absolutos, veja-se por exemplo o caso dos direitos humanos e a limitação que estes impõem à mesma, mas pense-se também na «soberania alimentar» e a decisão de alguns países de congelarem a exportação de alguns alimentos sobretudo devido à guerra na Ucrânia, decisão que agravará ainda mais a fome noutros pontos do globo, onde as borboletas já não batem as asas. Deverá a soberania alimentar ser pensada em termos absolutos? De fome absoluta?

Recentemente, presenciámos a 75ª edição do Festival de Cannes - surgido como contraponto à Mostra de Veneza ter galardoado, em 1938, dois filmes que vangloriavam o fascismo. Tenho uma profunda estima por Vincent Lindon, o actor e realizador francês, presidente do júri desta edição de Cannes, e o cidadão que, por exemplo, publicou um vídeo em Maio de 2020 sobre o que a pandemia revelava da França, a sexta potência mundial. Um dia destes, ouvi o cineasta Arnaud Desplechin, na altura em liça para a Palme d’Or com o seu filme Frère et soeur, dizer que quando vê um filme vê os olhos dos actores, ouvi-o também falar da sua cidade natal, Roubaix, uma das mais pobres de França e protagonista de muitos dos seus filmes. Filma Roubaix pois ainda hoje se impressiona com o contraste entre a dureza da vida e o esplendor que aí pode surgir.

No sul do Luxemburgo, depositário da tradição siderúrgica do país e anfitrião - juntamente com 8 municípios franceses vizinhos - de Esch 2022, capital europeia da cultura, realizou-se, no final de Maio, um encontro de jovens músicos de vários países da União Europeia (Remix 22). A descoberta começa logo na estação de comboios de Esch-sur-Alzette quando imergimos no mar poético do artista de rua açoriano Pantónio, que pintou os corredores-ondas entre o cais de desembarque e as portas que se abrem à cidade (num país até então sem mar à vista). Ouvi músicos espanhóis - incluindo meninos e meninas de 9 e 10 anos de Bilbao -, austríacos, húngaros e outros. Quando cheguei, os primeiros músicos já estavam a tocar. Perguntei ao técnico de som: de onde vêm? «Não sei. Algures da Europa». Além disso, éramos todos palco e todos bastidores. Em Differdange, também no sul e onde existe o Café Fim do Mundo, vive o fotógrafo Paulo Jorge Lobo. Interessa-se pela magia que se opera na rua e regressou à fotografia analógica devido, entre outras coisas, à importância de não ter uma imagem imediatamente. Temos de esperar pela revelação. É neste contexto que vos convido a ouvir Márcio Capelo na apresentação do seu livro Regeneração, no dia 8 de Junho, às 16h, na Feira do Livro do Funchal.

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