Há precisamente um ano atrás, manifestei neste espaço de reflexão a minha preocupação com a conjuntura internacional e os desafios que 2024 traria à União Europeia, num ano atípico, marcado por um número excecional de eleições que teriam lugar na Europa, mas também na esfera internacional, salientando entre elas, as eleições norte-americanas. Pelo meio, as eleições para o Parlamento Europeu foi uma das preocupações que expressei no artigo, entre outras matérias que infelizmente, não progrediram da forma que eu e os restantes 449 milhões de europeus certamente gostariam.
Devo confessar que entre os acontecimentos negativos de 2024 (e houve muitos, infelizmente), a reeleição de Trump foi algo que me entristeceu profundamente. O currículo desta personagem é algo de extraordinário, mas ainda assim não há outra solução que não seja dar o benefício da dúvida à versão Trump 2.0, na esperança que a idade possa ter trazido alguma humanidade, coerência e racionalidade ao homem que irá liderar a maior potência económica e militar do mundo. Infelizmente, tudo se complica quando sabemos que um dos conselheiros de Trump (nomeado para chefiar a “eficiência governamental”) será Elon Musk, apenas e só, o homem mais rico do mundo, formando-se uma aliança inédita, pouco transparente e que descredibiliza o sistema democrático. Pessoalmente, não antevejo nada de positivo nesta aliança multimilionária, além do aumento óbvio da fortuna astronómica de Musk e, mais grave ainda, o ganho estrondoso que terá na sua capacidade de influência à escala mundial. Aliás, basta pensar na sua recente intromissão, a poucas semanas das eleições antecipadas na Alemanha, com uma manifestação de simpatia à extrema-direita liderada pela AfD!
Mas voltando à Europa (com pouca imunidade ao que se passa no outro lado do Atlântico), os sinais para o ano novo não são animadores. Gostaria de expressar uma visão otimista sobre o que nos espera em 2025, mas tenho enormes dificuldades em fazê-lo. Uma coisa é aquilo que nós gostaríamos que acontecesse, outra coisa são os rumos que as evidências nos apontam, e esses, a meu ver, não são promissores. E não há que ter complexos em assumir as dificuldades. As crises na Europa são reais: lideranças políticas débeis, ausência de uma estratégia eficaz para a imigração, inflação desmesurada da habitação, alterações climáticas, debilidades estruturais e tecnológicas face ao gigante chinês, as incertezas sobre os novos Estados-membros dos futuros alargamentos, etc. A lista é, de facto, extensa e não se resolve com palavras vãs e manifestações de boa vontade expressas a reboque da defesa dos “valores europeus”. Os europeus querem e merecem mais que isto.
Neste contexto, a Polónia liderada pelo antigo presidente do Conselho Europeu Donald Tusk tem a oportunidade de dar o pontapé de partida, ao assumir a presidência do Conselho da UE nos próximos seis meses. Recorde-se que à Presidência compete dar continuidade à agenda da UE, garantir a solidez na legislação europeia, promover a cooperação entre os Estados-membros e a cooperação/coordenação com as restantes instituições europeias. Simplificando, é mais ou menos o papel de um anfitrião de um jantar de família a quem compete receber e promover a harmonia entre os convidados, garantindo que no fim da refeição, se tenham alcançado objetivos comuns e que todos regressam a casa satisfeitos com os resultados obtidos. Quem habitualmente promove almoços de família, sabe bem que não é uma missão fácil. É isto que sumariamente se espera da 2ª presidência polaca com o lema “Segurança, Europa!”. Não quero ser intriguista (até porque fica mal falar da família em público), mas parece-me um lema francamente melhor que o “Make Europe Great Again”, da anterior presidência húngara que deixa para trás, um rol de momentos inusitados protagonizados pelo enfant terrible (vulgo, “ovelha negra”) da família - Viktor Orbán. Infelizmente, há coisas que nunca mudam.