A semana passada, um promotor privado, o Presidente da Câmara de Lisboa inaugurou uma residência universitária em Lisboa, de seu nome "Nildo Campo Pequeno", que funciona desde setembro e os preços rondam entre os 695 a 1096 euros por mês. Carlos Moedas referiu que se tratava de um "trabalho diário" este aumento da oferta de habitação para estudantes.
Esta inauguração poderá ser equiparada à inauguração de um novo stand da Ferrari em Lisboa e o Presidente da Câmara vir dizer: trabalhámos diariamente para aumentar-se a oferta de transportes: através do setor público, privado, social e cooperativo. Isto daria um programa do Gato Fedorento, no mínimo.
Como diria Joana Marques num artigo de opinião, os fogos habitacionais em Lisboa precisam ser apagados, e os estudantes e as suas famílias não podem ser bombeiros de serviço. A questão é quanto é que os estudantes terão de pedir aos seus pais, quantas horas terão de trabalhar no pós-aulas para poder pagar um qualquer quarto numa destas residências, de iniciativa privada. Ou como diria o Manuel Cardoso no Expresso a hipótese de um estudante português da classe média de dormir numa dessas residências é seduzir uma jovem finlandesa que esteja cá em Erasmus. Este é um país onde se verifica um aumento das desigualdades sociais.
Atenção: nestes valores não está alimentação, não estão transportes, muito menos a propinas de qualquer faculdade. Estamos a falar sensivelmente em mais de 7 mil euros por ano. Quantas famílias podem pagar isto? Um país onde o combate das desigualdades sociais faz-se através da educação, mas a mesma está cada vez mais inacessível às famílias e limitada a cursos que os jovens não terão qualquer futuro.
Quanto custará a uma família madeirense, hoje, ter o seu filho no Ensino Superior fora da Região Autónoma da Madeira? Eu fui um privilegiado, pois os meus pais conseguiram pagar-me um curso fora da região, mas será que conseguirei dar esse privilégio aos meus filhos? Perante o estado das coisas tenho dúvidas.
Dessa forma, os investimentos da Região, algumas vezes terão de ser também fora da Região. Que tal se a Região pensar em construir residências universitárias em Lisboa e Porto para jovens madeirenses a preços controlados? Solicitar à Câmara Municipal de Lisboa, tal como a mesma cedeu a uma junta de freguesia para essa construção terrenos, porque não para a Secretária Regional da Educação?
Temos de pensar no futuro das nossas gerações, não podemos ter a próxima geração a viver pior do que a anterior, algo que poderá ser a primeira na história a que isso aconteça. Em 2018/2019, 4500 estudantes madeirenses estavam no continente sendo que 1350 estavam na área metropolitana de Lisboa e cerca de 500 na região Norte.
Se o Governo Regional construísse ou criasse um protocolo com a Câmara de Lisboa para a cedência de 500 quartos para estudantes madeirenses já era um grande alívio e o mesmo com as câmaras do Porto e Braga…
Finalmente, após estes investimentos das famílias e do pouco investimento do Estado nos jovens estudantes para onde é que estes jovens vão? Ah… pois eles são a nossa maior exportação! A exportação de talentos qualificados!