Após a loucura nos hospitais públicos, uma Ministra da Saúde que pede a demissão, o caos no aeroporto, serras em chamas, uma guerra que não termina, uma inflação no top, eis que chegam as medidas de apoio às famílias. Medidas contra a inflação que aos olhos da maioria dos portugueses, são tardias, mas bem-vindas.
Outubro será uma espécie de mini Natal antecipado: 125€ para quem ganha até 2700€ mensais, a somar 50€ por cado criança ou jovem, a redução do IVA na eletricidade, o congelamento do valor dos passes sociais, e um bónus aos pensionistas do qual a oposição afirma ser uma espécie de presente envenenado. Posto isto, podemos falar em apoio? Em alívio momentâneo? Ou numa ilusão?
Devo confessar que estava desejosa de conhecer as medidas para apoio às famílias, já proclamadas à uns meses. Cheguei a pensar que seria mais uma daquelas promessas que não seriam cumpridas. Mas a verdade é que setembro chegou e o prometido também! Resta apenas saber se no mês seguinte, estes apoios serão mesmo concretizados.
Sim, podemos dizer que este pacote de medidas calha bem. Mas olhando pormenorizadamente para este leque, verifica-se que não falamos de um apoio, mas sim de uma sucessão de "ilusões" que são oferecidas ao povo, dando a entender de que são um apoio para todos os cidadãos e para a economia portuguesa, quando na verdade o que está a ser feito é uma proteção da dívida pública.
Destacando o apoio extraordinário de 125€, sim. De um dia para o outro, ter mais um dinheirinho extra na nossa conta bancária, é sempre algo animador. Certamente, ajuda nas compras dos bens essenciais e alimentares, do material escolar, do gás, da eletricidade, da água, dos transportes públicos ou abastecimento de gasolina … Mas, não querendo ser pobre e mal-agradecida, pergunto: será suficiente? E no próximo mês?
A verdade é que a inflação não pára de crescer. A maioria dos portugueses da classe média está a comer massa e arroz, não tem acesso a proteína de qualidade, não tem acesso ao lazer, não consegue dar uma educação decente aos seus filhos, tem a sua saúde posta em causa, tem uma rotina diária entre casa / trabalho, trabalho / casa, e vivem com salários que são completamente incompatíveis com o custo de vida dos dias de hoje. O povo não vive, sobrevive! Esta é a big picture!
Portanto, lançar 125€ apenas para o mês de outubro, é irrisório e uma ilusão. Sim, é bem-vindo, mas apenas serve para calar o povo durante uns tempos. Se fizermos as contas, são 10€ por mês que não cobrem a inflação.E atenção: estes apoios não são presentes. O Estado não está a dar nada. Todos nós, enquanto cidadãos portugueses, pagamos uma brutalidade de impostos, inclusive no IVA e na inflação, e confrontamo-nos diariamente com uma degradação nos serviços públicos de vários setores. Este apoio é nosso por direito!
Querem evitar revoltas sociais, então distribuem uns rendimentos mínimos ou, se quisermos, umas migalhas de modo a verem se os portugueses se contentam a viver abaixo dos seus rendimentos. É isto que se passa no nosso país. E estamos a assistir, de camarote, a uma longa e estruturada decadência do nosso país!
Cito uma frase de Almada Negreiros: "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade." Ou seja, já está tudo feito… só falta uma coisa - AGIR!!!