Eventos atmosféricos extremos, como sabemos, são passíveis de provocar aluviões, com o poder destrutivo que se lhes conhece. Desta vez, apesar dos recordes de precipitação nas serras da capital, as aluviões foram evitadas. Sublinho esta ideia: EVITADAS.
Foram evitadas de facto, pela ação do Governo, quer pelo que tem sido feito desde 2010, quer pela ação competente e atempada durante a tempestade que nos assolou. Neste último ponto, foi extremamente prudente o encerramento das escolas, que evitou a trânsito de milhares pessoas, entre alunos, docentes, auxiliares e encarregados de educação, bem como foi eficaz a monitorização permanente e ação diligente, quando foi necessário intervir, por parte da Secretaria Regional de Equipamentos e Infraestruturas e pelo Serviço Regional de Proteção Civil.
O Governo Regional mostrou, uma vez mais, depois da competente ação no combate à pandemia das nossas vidas, estar preparado para lidar com este tipo de fenómeno extremo, revelando o aumento da resiliência da nossa sociedade, incluindo das próprias autoridades.
O ato de Deus foi mitigado pela ação humana. E foi isso exatamente que se passou.
Em 2010, foi apresentado o Estudo de Avaliação do Risco de Aluviões na Ilha da Madeira, elaborado pelo Instituto Superior Técnico, Universidade da Madeira e Laboratório Regional de Engenharia Civil (revisto em 2017), que serviu de substrato a um conjunto vasto de intervenções e medidas que visavam evitar tragédias como aquela que ocorreu a 20 de fevereiro de 2010.
Nesse estudo, tão maltratado e maldito por alguma oposição e inúmeros intervenientes da sociedade madeirense que, sentados no cadeirão da ignorância atrevida, contestaram as conclusões de especialistas (como os professores Rodrigo Proença de Oliveira e António Betâmio de Almeida), foram previstos 6 princípios orientadores: retenção de material sólido; controlo do transporte de material sólido; atenuação da vulnerabilidade das áreas expostas; controlo da exposição ao risco; previsão e aviso - sistema estruturado de previsão; e formação e informação ao público.
Desde então, foram desenvolvidas diversas medidas que visaram concretizar esses princípios: ações de reflorestação, fundamentais à retenção do material sólido, intervenções para evitar ou pelo menos, mitigar, os efeitos devastadores das aluviões, como estruturas de retenção, regularização dos leitos das ribeiras e o seu reperfilamento, para evitar curvas com potencial para fazerem barragem, reforço dos muros de contenção das margens e construção de travessões hidráulicos de estabilização de leito, elevação de pontes (com o rebaixamento dos leitos), aumento da secção e da velocidade de vazão.
Foi também feito um investimento acentuado em sistemas de alerta, nomeadamente no Projeto MonitorizaRibeiras, um sistema automático para a monitorização das ribeiras através de 32 câmaras de vídeo; implantação de um sistema de telecomunicações para telemetria em zonas isoladas; e a criação de uma Rede Udométrica de Alarme.
Todos nos lembramos o quão criticadas foram as intervenções feitas nos leitos das ribeiras. Debaixo de cada pedra que se mexia, saltava um "especialista" atrevidamente ignorante. Mas a verdade é que essas intervenções, tão dura e injustamente criticadas, comprovaram agora a sua eficácia.
Como me diziam recentemente, não há melhor campanha eleitoral. Tomar decisões difíceis e impopulares é o desígnio dos bons governos. A gritaria da rua, a demagogia populista, a ignorância atrevida, é algo que faz manchetes, mas não resolve problemas. O que teria acontecido esta semana, com a tempestade Óscar, se o Governo Regional, liderado por Miguel Albuquerque, tivesse recuado perante o histerismo que atacou alguns sectores da sociedade madeirense em 2016 e 2017?
Felizmente, nunca saberemos a resposta a essa pergunta. Porque o Governo Regional, de forma temerária, com Miguel Albuquerque à cabeça, fez ouvidos de mercador e continuou com as medidas que tinham de ser implementadas. Para defesa da nossa cidade e das nossas populações. As vozes de burro, uma vez mais, não chegaram aos céus!