Noutros tempos com outra importância constituía uma importante fonte de rendimento para o agregado familiar.
No campo praticamente todas as mulheres da casa bordavam. Era uma atividade complementar ao resto das lides da casa e do campo.
Em Santana, tal como no resto da região os bordados chegavam ali, vindos das "casas" no Funchal.
Havia alguém que representava as casas de bordados sediadas na cidade e que fazia a entrega e recolha dos bordados. Regularmente havia uma passagem pelos sítios para levar novas peças para bordar e recolher o produto já acabado.
Eram uma espécie de intermediárias que também procediam aos pagamentos. As quantias eram em função do trabalho realizado. Recordo-me de assistir a esses momentos. Olhava-se para o produto final e por vezes discutiam-se pormenores de qualidade que por vezes determinavam o valor a pagar.
Nem toda a gente tinha jeito para todos os pontos. Recordo-me de ouvir conversas com diferentes termos técnicos como: "ponto cruz", "ponto corda", "garanitos" e outros.
Bordavam-se lenços à dúzia, toalhas de mesa e "naprons".
O ato de bordar, era e é um trabalho de grande minúcia e de muita paciência. Uma verdadeira arte. Na maior parte das vezes este trabalho era feito de forma solitária. Feito quase sempre no intervalo de outras tarefas quotidianas da casa. Era, por assim dizer um trabalho extra.
Por vezes bordar também era um momento de socializar quando as vizinhas se juntavam. Aí numa tarde ou numa manhã normalmente em espaços ao ar livre e em zonas com muita luminosidade para além do trabalho o momento transformava-se numa espécie de convívio social. As conversas versavam os mais variados temas da atualidade na zona e ajudavam a passar o tempo e a produzir.
Claro que muitas destas conversas eram pura "bilhardice". Mas fazia parte. No fundo, eram as redes sociais da época, em que o digital era apenas a agulha e o dedal.
O trabalho tinha de ser feito, porque havia prazos para cumprir.
A necessidade também obrigava porque sem trabalho pronto não havia pagamentos.
Este trabalho que por vezes era interrompido pelos mais pequenos que nas imediações improvisavam brincadeiras, mas que de vez em quando implicavam chamadas de atenção das mães quando era necessária a intervenção superior.
Por vezes essa necessidade implicava ainda mais "horas extras ". Depois das tarefas do dia-a-dia, aproveitava-se parte da noite também para bordar. Havia que acelerar a conclusão do trabalho. Como na maior parte das casas não havia luz elétrica, tinha de ser à luz do candeeiro. Candeeiros a petróleo que como é bom de perceber deixavam um cheiro característico nas redondezas. Bordar à noite era um exercício que exigia sobretudo mais esforço visual porque a luz de um candeeiro a petróleo, por maior que fosse nunca era como a luz do dia. A atenção tinha de ser maior, para não falhar pontos e não fazer saltar a agulhas para os dedos. A qualidade do trabalho também, essa era sempre avaliada.