São cem anos de experiência, de ensaio e de vida plena de pensamento e sonho. Filósofo que considera a sua filosofia uma filosofia de observação do mundo e que questiona permanentemente os seus desenvolvimentos.
Edgar Morin questiona o ensino e os métodos de aprendizagem, questiona a utilização das novas tecnologias e as suas vantagens e desvantagens, questiona a especialidade e os especialistas em confronto com a sabedoria global e transdisciplinar. Fui sempre um adepto e praticante desta metodologia e desta prática.
Edgar Morin entendeu sempre que arte fica e o seu autor parte. O nosso sonho é que a arte, a cultura, a consciência, e a criação nos acompanhem permanentemente e que os saberes que nos acompanham se unam num ponto de fuga da sabedoria. O paralelismo dos saberes precisa de se tocar e de se interpenetrar.
Edgar Morin é um criador do "pensamento complexo", teoria que tem vindo a desenvolver numa vasta obra publicada: mais de setenta livros e dezenas de entrevistas publicadas em registo coloquial.
Este pensador da transdisciplinaridade não abdica nunca do sentido e espírito crítico e da autocrítica, condição essencial para observar os erros e feridas da vida e da sociedade.
Foi um resistente anti nazi e regista este seu percurso intelectual como um meio de lutar pela liberdade global e pela liberdade criadora e estética.
É nesse período da resistência que opta pelo nome de Morin, já que o seu verdadeiro nome recebido dos familiares judeus é Nahoum.
Ligou-se à luta dos soviéticos durante alguns anos e considera que "esse universo o educou sobre os poderes da ilusão" tal como nos diz no seu admirável livro "Leçons d’un Siècle de Vie". Na sua extraordinária obra publicada podemos aferir os imensos contributos científicos, filosóficos, antropológicos e pedagógicos.
Impõe-se ler "O Método", uma das mais significativas obras de Morin, onde explana a natureza da vida, das ideias, da humanidade, da ética e da estética. Temas que tenho vindo a referir nos meus artigos, no nosso jornal.
É nas suas comunicações sobre educação, sobre a complexidade da educação, sobre a comunicação, que eu encontro os mais apetecíveis contributos da transdisciplinaridade, uma área exuberante do seu saber e reflexão. Os colegas professores deviam reflectir e estudar este genial pensador, pertencente a uma família de intelectuais que muito admiramos - Agostinho da Silva - Vitorino Nemésio - Manuel de Oliveira e o nosso saudoso Dr. Horácio Bento de Gouveia.
Edgar Morin amigo de Portugal
É através de uma grande amiga comum, a professora Dra Isabel de Oliveira, ex diretora do maior departamento da Universidade Sorbonne, departamento de Cultura e Línguas Estrangeiras e presidente do Institut Monde Lusophone, que Morin se une a Portugal, sendo hoje embaixador do nosso instituto ao lado de personalidades muito diversas como o arquitecto Siza Vieira, o actor Duarte Lima e os madeirenses Cristiano Ronaldo e a estilista Fátima Lopes.
A Dra Isabel de Oliveira esteve na Madeira e contactou com membros do Governo Regional, incluindo o Senhor Presidente Dr Miguel de Albuquerque. Lamentavelmente, não a pude acompanhar, pois tinha ido a Lisboa proferir uma palestra sobre David Mourão Ferreira, no âmbito do programa Oeiras Capital Europeia da Cultura.
Estimados leitores, ao homenagear o meu amigo Edgar Morin, estou também com o nosso jornal a preparar a possibilidade de comemorarmos os cento e um anos de Edgar Morin no Centro de Artes, na Quinta da Alegria, no Funchal.
Parabéns Edgar Morin, amigo e camarada da cultura, da ética, da estética e da poética de viver.