A tradição de varrer os armários é entendida, na Madeira, como o fim da Festa. O dia de apagar as gambiarras, desmontar a árvore e guardar as imagens da lapinha.
Isso é o que manda a tradição da quadra natalícia.
Mas a tradição já não é o que era.
Por estes dias, assiste-se a uma atividade paralela de varrer os armários no campo da política partidária.
Há um rebuliço que nasceu, cresceu e se multiplicou assim que se falou com mais incidência na moção de censura e na queda do governo, cenários que se confirmaram.
E o que fazem os partidos nestas alturas? O que melhor sabem fazer: oposição ao governo e guerras entre militantes. São essas duas atividades que animam quase todos os partidos, incluindo o maior deles todos.
Um rápido olhar ao panorama político partidário regional comprova esse ambiente de forte tensão nos partidos representados no Parlamento. Comecemos de cima para baixo.
O PSD-Madeira vive há largos meses um clima de crise interna. Desde antes do último congresso que os social-democratas experimentam um caminho que não conheciam e que divide militantes.
No PSD, parece normal fazer esperar até à última os mais de 500 militantes que pedem um novo congresso. Parece, mas não é.
Já o PS tem um longo histórico nestas andanças. Os dirigentes socialistas sempre habituaram os madeirenses a guerras contínuas para manterem os pequenos poderes quando se aproximam eleições.
No PS, parece normal quando militantes históricos pedem a demissão. Parece, mas não é.
O vírus da divisão interna é tão potente que já atingiu o JPP. O partido que tinha tudo para continuar a crescer está minado por duas correntes internas.
No JPP, parece normal ignorar o mais mediático autarca e único presidente de Câmara e tentar afastar a sua sucessora natural. Parece, mas não é.
O Chega aprendeu rápido a arte da divisão interna. Depois de vários líderes, o partido conseguiu um grupo parlamentar, mas já afastou uma deputada.
No Chega, parece normal castigar de forma drástica quem se arrisca a fazer diferente. Parece, mas não é.
O CDS vive um tempo híbrido. O partido estava no governo, perdeu terreno, mas conseguiu acomodar os seus principais ativos nas margens do poder e disfarça a contestação interna.
No CDS, parece normal estar a bem com o poder e a oposição. Parece, mas não é.
A Iniciativa Liberal também já sabe o que custa ter divergências internas. O partido conseguiu um deputado, mas mudou de coordenador e também já fala a duas vozes.
Na Iniciativa Liberal, parece normal desbaratar assim o capital político conquistado. Parece, mas não é.
E chegámos ao partido Pessoas Animais Natureza. Também tem uma deputada, já passou por uma intensa crise interna e está entregue a um grupo de jovens.
No PAN, parece normal dispensar saber e experiência. Parece, mas não é.
Moral destas histórias: os partidos que tanto querem atrair eleitorado, são os primeiros a mostrar que a política partidária não é um ambiente saudável. Queixam-se da abstenção, mas adoram antecipar o varrer dos armários.