Cresci a ouvir o meu avô e o meu pai defenderem as gerações mais novas. Recordo-me de assistir a diálogos onde alguém, por uma qualquer razão, afirmava que a nova geração era uma “lástima”. Fosse por serem mais preguiçosos, menos lutadores, menos estudiosos. A velha máxima do “No meu tempo não era assim!”. Tenho bem gravada a reação de qualquer um deles. Afirmavam, de forma assertiva, que já o mesmo se dizia quando eram jovens e a realidade é que o mundo continuou a avançar para mais conhecimento. Lembro-me, aliás, de assistir a argumentações e exemplos concretos dados por qualquer um dos dois.
Hoje, percebo que a tendência dos mais velhos criticarem as gerações mais novas se mantém e, muitas vezes, usando as mesmas expressões de há 50 anos.
Trabalho com muitas pessoas, muitos jovens, geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) e não haja dúvida de que estão a trazer uma nova perspetiva às culturas organizacionais. Isso significa que é para pior? Na minha opinião, não! Tenho, na verdade, aprendido muito com eles.
Esta é uma geração de nativos digitais habituados a mudanças rápidas. Nasceram e cresceram num ambiente de globalização o que os faz valorizar a flexibilidade, o propósito no trabalho e a inclusão de uma forma que a minha geração não fazia. Naturalmente, as suas expectativas são elevadas em relação a temas de extrema importância e que, durante anos foram desvalorizados, como são a saúde mental, a sustentabilidade e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
No entanto, é por estas características que muitos os classificam como difíceis de gerir. É comum ouvir comentários ou até criticas sobre a sua aparente falta de lealdade, ambição ou paciência. Mas será que estas críticas são justas, ou estamos apenas a resistir à mudança inevitável trazida pelas novas gerações?
Para esta geração, trabalhar não é apenas uma questão de receber um salário; é uma extensão dos seus valores e identidades. Querem trabalhar em empresas que espelhem os seus princípios, que sejam transparentes e responsáveis. Para eles, não são apenas boas práticas empresariais – são condições essenciais. Trata-se, de facto, de bem estar organizacional.
É verdade que podem ser menos tolerantes a ambientes tóxicos. E se em vez de encararmos isso como um problema da geração encararmos como uma oportunidade para as organizações evoluírem. Afinal, o que ganham as empresas em tolerar práticas ultrapassadas ou ineficazes que, no fundo, prejudicam todos os colaboradores, independentemente da sua idade?
A sua insistência no equilíbrio entre vida pessoal e profissional não é um sinal de fraqueza ou falta de ambição, mas sim de uma perspetiva mais saudável e sustentável para a vida e para o trabalho. Diria que é, efetivamente, um sinal de evolução.
Evidentemente que, como em todas as gerações, há desafios. As novas gerações valorizam o feedback constante e informal e, sabemos que, muitos líderes ainda preferem abordagens hierárquicas e tradicionais o que pode gerar tensões que não devem ser ignoradas. Acredito, porém, que a solução não passa por mudar os jovens, mas sim por criar espaços onde a colaboração intergeracional aconteça.
A questão não é se a Geração Z é melhor ou pior do que as anteriores. A pergunta é: estamos prontos para ouvir o que têm a dizer e para nos adaptarmos a um mundo que continua, inevitavelmente, a mudar? A história já provou que resistir ao novo nunca foi uma estratégia eficaz. Talvez seja altura de abandonarmos os preconceitos e reconhecermos que, como o meu avô e o meu pai sabiam, cada geração traz consigo desafios – mas também oportunidades.
Não será essa, afinal, a essência do progresso?