Ora, de há uns tempos para cá e até talvez a reboque de um discurso infame que junta crime a imigração, tem-se falado da chamada sensação de insegurança e com o populismo a entrar pelos media adentro, já para não falar das redes sociais, o tema ganha cor. Acontece que essa sensação nem sempre calha bem com os “números”. Será uma forma de condicionar a política por outros meios?
Antes de mais, o que significa “segurança”? Podemos olhar para este termo em dois sentidos.
Primeiro: ao pesquisarmos no dicionário de língua portuguesa esta palavra, encontramos confiança, garantia, certeza ou tranquilidade de espírito. Para mim, o termo “segurança” significa isso tudo. Ou seja, é o facto de termos a confiança de que temos um trabalho ou um emprego estável, de que temos uma casa onde possamos viver... sem termos de estar constantemente com ameaças de perder o emprego, sem saber o dia de amanhã, e não termos como pagar a renda de uma casa. E isso acontece não apenas àqueles que têm contratos com termo, mas também àqueles que têm contratos fixos. Pode parecer cliché, mas a verdade é que segurança é um privilégio nos dias de hoje: trabalhar num ambiente seguro e ter condições para ter uma casa própria e passar tempo de qualidade com a nossa família.
Segundo: envolve a segurança pública e a criminalidade. Quando falamos em crimes, o sistema mediático contribui altamente para a imagem de que estes são causados por imigrantes. Aliás, muitos dizem que são os imigrantes os responsáveis pelo aumento da criminalidade em Portugal. Mas será que existe mesmo uma relação entre imigração e criminalidade? E serão os imigrantes os únicos responsáveis? A realidade é que existe uma ideia estereotipada relativamente à imigração. Efetivamente, a taxa de imigração aumentou nos últimos tempos. Mas o aumento de imigração não é acompanhado por um aumento da criminalidade cometida pelos imigrantes. Não sejamos ignorantes. Coloquemo-nos no lugar desses que emigram, na esperança de uma vida e futuro melhor, desses que deixam para trás uma história pessoal, social e cultural, na busca de melhores condições.
Efetivamente, é mais fácil atribuirmos a culpa das dificuldades sentidas num inimigo comum externo, estranho e desconhecido, um bode expiatório, do que propriamente pensar que podem surgir como consequência face aos problemas existentes no emprego, na habitação e na pobreza. Mais difícil é abandonarmos preconceitos e desfocarmos deste falso inimigo que tanto nos cega para uma análise assertiva da situação.
Nos media, não mostram imagens de quem rouba os bancos do nosso país, ou seja, os banqueiros ou os corruptos que levaram à falência os bancos ou que colocaram o nosso país em crise. Face a estes antecessores, atualmente temos uma taxa a aumentar relativamente ao número de pessoas que não têm acesso às urgências, ou ao número de grávidas a percorrer centenas de quilómetros para serem assistidas ou até crianças que chegam ao final da quarta classe aliteradas, e isto porque nós estamos a pagar o risco sistémico da banca que cometeu estes crimes e sejamos sinceros: uma boa parte delas não foram acusadas de crime nenhum. Pensemos numa mudança de paradigma: procurar soluções para resolver as chagas sociais do nosso país, como o desemprego, a fome, a pobreza, a habitação... os verdadeiros problemas sociais. Isto sim são problemas estruturais que levam à criminalidade!