Não sou daquelas pessoas que ficam a chorar resultados eleitorais, lançando culpas para cima de outras. Tão pouco defendo a teoria de que a população não sabe escolher ou se deixa enganar. Admiro e respeito quem defende as suas ideias, expondo-as publicamente para serem discutidas e votadas, sabendo que poderão ser apoiadas ou rejeitadas pelo eleitorado. É preciso coragem para este envolvimento na causa pública, a par do desejo de contribuir civicamente no contexto em que nos inserimos. Isto faz parte da democracia.
Associada ao sistema democrático está também a utilização do poder do voto. Mesmo que as opções existentes não correspondam exatamente ao que desejamos, há sempre algumas que acabam por ajudar-nos a lutar contra projetos políticos que nos causam graves preocupações. Em democracia, o voto é a nossa voz e nunca deveria ser uma experiência negativa como algumas que se voltaram a ouvir em 2021, em sussurros amedrontados, e que alegadamente envolvem listas de nomes obtidas não se sabe como, com transportes alegadamente à medida. E a ser verdade, a democracia neste contexto não passa de uma miragem.
Tal como já referi, construir a democracia implica clarificar junto do eleitorado a visão que temos para a resolução de problemas ou para a construção de soluções com futuro. Nesse sentido, tenho muito cuidado quando percebo que a oferta de propostas e de projetos é pouco credível, por ser quase impossível de concretizar, por revelar desconhecimento e, consequentemente, por tentar levar o eleitor ao engano, através da demagogia, da ameaça e do medo.
Ser democrata implica um nível de autoconhecimento razoável. Não é sinónimo de ser-se parvo. É reconhecer com humildade que não se foi talhado para o negócio de frangos e transportes. É perceber que esse não era um objetivo que se tivesse colocado como algo a atingir e conseguir viver bem com essa consciência.
Em democracia não pode haver resistência à reflexão, sendo muitas vezes necessário parar para realinhar caminhos e estratégias, tentando não perder o rumo ou a coerência política, mantendo-se fiel aos princípios que regem os ideais que se perseguem. Para quem está na política partidária precisa muita força anímica para dar a volta a lutas intestinas e ambições pessoais, conseguindo congregar vontades, onde exista divisão, motivar onde exista desânimo. Nada disso é fácil e, por isso, respeito e admiro quem o faz, frequentemente à custa da sua vida pessoal e do seu bem-estar diário. Sem esperar ser reconhecido ou reconhecida, ou que alguém lhe agradeça.
Deixo aqui o meu obrigada a quem avança na defesa do que considera justo, a quem não baixa os braços e, encontrando-se, ajuda os outros a criarem caminhos de força e coragem. Seja onde for: no seu metro quadrado, na RAM, em Portugal, no Afeganistão, no Mundo.