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Artigo de Opinião

GATEIRA PARA A DIÁSPORA

20/12/2022 08:00

Ao contrário do previsto, não poderemos passar o Natal na Madeira. Será a terceira vez consecutiva que não poderemos almoçar no dia de Natal na casa da avó - e ponho agora a tocar a Casinha Pequenina de Tânia Maria e do contrabaixista Niels-Henning Ørsted Pedersen, que me sugeriu certa vez o Mestre Carlos Jorge («Tu não te lembras da casinha pequenina / Onde o nosso amor nasceu»). Esperamos regressar por altura do Carnaval, do trapalhão, que Brasil no Fevereiro da Madeira não é rima que se ajuste. Decretamos então que no Carnaval será Natal.

Ponho agora a tocar o Embalo, o último álbum de André Santos. Aquece-me a mim e à casa e não é só por causa da sua Canção em Sol. Assim, de repente, o pensamento voga para a última vez que estive na Madeira. Gostei muito de ter ido ao pátio do Centro de Estudos de História do Atlântico e de ter visto a romãzeira e o algodoeiro - com a sua bonita flor amarela - ao abrigo dos quais se pensa a história e o Atlântico. Na bagagem, trazia frutos deliciosos (ou filodendros), havia comprado goiabas ao senhor do Estreito na parte de baixo do Mercado dos Lavradores - e que cheirinho tinham - e tomate inglês que não pude comer para não me mancharem as amálgamas mais recentes, e com que pena fiquei. Também comprei próteas (apesar de ser republicano, gosto das king, das próteas reais) e estrelícias. Safaris não, pois lá por casa também havia.

Nessa altura, vi no Teatro Baltazar Dias um antigo anúncio para a peça de teatro Justiça dizendo-se que «[e]sta peça baseia-se num caso verídico, passado na cidade de Évora, e tão grande celeuma originou, que as autoridades proibiram a sua representação na referida cidade». Celeumas à parte, queria aproveitar a ocasião para felicitar Évora - e Liepaja, na Letónia - eleitas Capitais Europeias da Cultura 2027. O título da representação proibida também me recordou um artigo da revista L’Obs sobre um mui infeliz episódio que decorreu em 18 de Outubro deste ano. Marie Truchet era uma juíza de carreira saída em 2003 da Escola Nacional da Magistratura francesa, da classe Simone Veil, e naquele fatídico dia em que a vice-presidente do Tribunal de Nanterre, França, presidia a uma série de audiências que iriam decorrer até altas horas, foi acometida de um problema cardiovascular. A mãe de um detido, que trabalha na área da saúde, saltou para o estrado para efectuar uma massagem cardíaca. Infelizmente, nem esta nem os serviços de emergência que se seguiram evitaram a morte da magistrada do Tribunal com cada vez menos pessoal e cada vez mais processos. A autópsia revelou um antigo traumatismo que poderia explicar o episódio cardíaco. Ficou por constatar o impacto de fazer mais com menos.

O padre Pedro Opeka - argentino de origem eslovena cuja família católica se viu obrigada a fugir da Jugoslávia comunista - fez um périplo pela Europa para obter fundos para a obra por si fundada em 1989, Akamasoa (os bons amigos, em malgaxe), na ilha-continente Madagáscar, quando descobriu mais de 400 famílias desterradas na lixeira a céu aberto da capital do mesmo país. Hoje, providencia uma habitação condigna a mais de 25 000 pessoas. O padre Pedro - como é conhecido - agradeceu, numa entrevista a Laure Adler, a todos os pobres que nos despertam. Assim, desejo que andemos por este Natal bem despertos!

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