Pouco tempo depois, João Costa veio dizer que, afinal, "a habilitação de acesso à profissão, ou seja, para um professor poder ingressar na carreira docente, é e vai continuar a ser o mestrado".
No fim de contas, parece que poderão dar aulas licenciados pré e pós-Bolonha (ou doutorados com conhecimento científico adequado), mas apenas enquanto professores com habilitação própria, com contratação direta pela escola, fora do concurso nacional.
O senhor ministro disse, igualmente, que cada licenciatura será avaliada. Acrescentou, exemplificando, que "este despacho não se vai circunscrever a licenciados, ou seja, eu posso ter alguém que é doutorado e que ao longo do seu percurso formativo, desde a licenciatura ao doutoramento, frequentou disciplinas nas diferentes áreas científicas. Alguém que tenha formação sólida científica em matemática poderá ser docente de matemática, mesmo que não tenha a formação de ensino em matemática".
Uma novela.
Ora, o problema da falta de professores não é novo. Em Portugal Continental, repetidos são os episódios caóticos que marcam o início de cada ano letivo. Pelo que se sabe, este ano não será diferente, mesmo que houvesse uma alteração definitiva e clara nos requisitos para a docência. E, ainda assim, isso não é solução.
E nem vamos falar, por exemplo, das mais de duas centenas de queixas relacionados com as plataformas MEGA - Manuais Escolares e com o Portal das Matrículas. Nem sequer vamos lembrar que o Ministério da Educação anunciou que 97,7% dos 13101 horários pedidos pelas escolas já têm professores atribuídos, mas que, por acaso, isto diz respeito aos horários pedidos em julho. Numa outra fase posterior, foi autorizada a abertura de novas turmas e não foram contabilizados (porque o Governo assim o quis) os professores que se irão aposentar.
Ora, não batendo a bota com a perdigota, tem tudo para correr bem.
O que o Governo da República vem fazer, com estas propostas avulsas, é remediar a manta de retalhos em que está a transformar-se a educação neste país.
Ninguém apresenta uma resposta cabal ao problema, ninguém quer saber se os professores (para nem falar de outras áreas basilares) têm boas condições de trabalho e salários dignos. Condições, essas, que sejam justas para quem está na profissão e que sejam atrativas para quem nela pode vir a ingressar.
Na próxima década, estima-se que irão sair do sistema educativo cerca de 40% dos professores e não há uma alma, no Governo central, que pense na urgência de dignificar a profissão e de atrair os melhores para a mesma.
Todos falam de educação, mas poucos pensam na sua valorização, esquecendo-se, inclusive, que a falta de dignidade que estas ações incutem a uma área tão preponderante da sociedade e a profissionais tão cruciais são reflexo da forma incompetente e absoluta com que o PS dirige este país.
Este caminho (e para saber esta nem é preciso ter curso) é um passaporte para desqualificar a educação. E essa desqualificação nivela-nos por baixo e compromete o futuro das gerações mais novas.
Valha-nos, a nós, por cá, a Autonomia!